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Uma geléia geral a partir do cinema

Homem do Oeste

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

De tudo o que li, ou tentei ler, sobre a morte do centenário Lévi-Strauss, nada me pareceu tão inteligente nem instigante quanto o texto de Sérgio Augusto que sai amanhã no 'Caderno 2'. Sérgio Augusto foi cavoucar sobre o que o antropólogo gostava de ver na tela, com base numa entrevista que deu a 'Cahiers du Cinéma', no começo dos anos 1960, muito antes da cagação de regra de Jean-Michel Frodon sobre o que deva ser o papel de cinematografias periféricas... Não estava tão errado assim. Aproveitei meus recentes textos sobre westerns para falar, en passant, sobre a morte do grande pensador. Lévi-Strauss amava os westerns e, na época da entrevista, cita dois, mais ou menos recentes, que o haviam impressionado - 'Minha Vontade É Lei' (Warlock), de Edward Dmytryk, e 'Sete Homens e Um Destino', a transposição, para o Oeste selvagem, feita por John Sturges, de 'Os Sete Samurais', de Akira Kurosawa. O que o atraía no cinema era aquilo que chamava de 'jouissance', a potência cinematográfica, a cor, o som, a imagem e por isso mesmo ele gostava de westerns, não importava se fossem medíocres. Se tivessem belas paisagens, já era lucro. Claro que não era só isso e eu já escrevi que a essência da contribuição de Lévi-Strauss, a sua crença de que o pensamento primitivo e o civilizado não são tão distantes assim, tem tudo a ver com o choque cultural que os bangue-bangues colocavam na tela. O antrópologo era fissurado em ópera e lamentava que o cinema não lhe oferecesse a grande ópera que ele sonhava ver na tela. Será por isso que amava 'Sete Homens e Um Destino'? Sou dos que defendem que o bangue-bangue de Sturges, por sua estrutura audiovisual, apontou o caminho que Sergio Leone e Ennio Morricone seguiriam em seus spaghetti westerns operísticos, também inspirados pelo gênio de Kurosawa. O texto não fala, mas desconfio de que Lévi-Strauss, por tudo que foi dito, devia gostar de Leone...

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