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Uma geléia geral a partir do cinema

Gramado 9/Teste de resistência

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

GRAMADO - Não querendo polemizar, mas polemizando, estou bastante decepcionado com a seleção latina deste ano. Espero que o que vou escrever não me custe a amizade de Rubinho, Rubens Ewald Filho, que faz a seleção - é verdade que não sozinho. Não sei exatamente os critérios - os filmes são convidados, não se inscrevem, me informaram -, mas o nível anda baixo. Tirando a noite do boliviano, bom, e do paraguaio, ótimo, o que tenho visto é de desanimar, e em Berlim e Cannes havia filmes latinos bem superiores, incluindo Neruda, do chileno Pablo Larraín, com Alfredo Castro e Gael García Bernal. Em vez disso assistimos a Conspiração Antiargentina, potencialmente interessante (mania de grandeza, teoria do complô etc), mas over, irritante e tem até gente sustentando, meio brincadeira meio verdade, que o filme foi estrategicamente programado para mostrar que a Argentina também faz filmes decepcionantes - sejamos elegantes - e, portanto, o espectador e o cineasta brasileiros não precisam sofrer de nenhum complexo de inferioridade. A própria seleção brasileira anda cheia de altos e baixos, e tirando os filmes sobre Elis e o de Marco Dutra, nada vale o potente Desvios, que vi numa programação alternativa, à tarde. Não sei se Sara Silveira falou com o diretor Pedro Guindani, mas ela, grande produtora de filmes autorais, também gostou (fazendo alguns reparos que não endosso). Te disse, Pedro - tu 'é' do ramo. E teu ator, Rafael Mentges, nunca será demais destacar, é fora de série. A salvação da quarta foi o checo, à tarde, e à noite o curta Memórias da Pedra, de Luciana Lemos, interessante, mais até pelo que não tem. Luciana filmou em Monte Santo e Milagres, cidades que serviram de locação para dois filmes míticos de Glauber, Deus e o Diabo na Terra do Sol e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. Ela vai e entrevista pessoas, mostra as potentes imagens (e os sons) glauberianos, coteja os lugares da tela com a realidade atual. Principalmente, dissocia o verbo de Glauber, que aparece em off e não recorre a nenhum crítico para cagar regra. Aleluia! O resultado intriga. As pessoas, nenhuma marcante, têm uma vaga ideia dos filmes e seu significado. As imagens é que são eloquentes, e o texto em off. Glauber e seus filmes sobrevivem no imaginário dos cinéfilos. A maior contribuição de Memórias da Pedra, para mim, é que me deu vontade de ir àqueles lugares. Se já fui a Monument Valley, por que não Monte Santo? A diferenças é óbvia. A escadaria de Odessa de Glauber pode ser um obstáculo formidável, mas não impossível. Na Páscoa, tive resistência parta subir ao teto do mundo, Machu Pichu. Por que não Monte Santo? Estopu aqui ruminsanmdo...

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