Gosto de Tata Amaral e acho que seus filmes são bons até quando não ruins. Céu de Estrelas, Através da Janela, Antônia, O Rei do Carimã (que é o filme recente dela de que mais gosto). Tinha grande expectativa por Hoje, que venceu o Festival de Brasília de 2011, até porque fui - Tata sempre me lembra isso - o primeiro jornalista a visitar o set e escrever sobre essa visita. Fui ontem à pré-estreia do filme. Achei interessante, mas não posso dizer que gostei. Achei a narrativa muito esquisita. Tata conta a história dessa mulher que comprou um velho apartamento no Centro de São Paulo com o dinheiro da indenização pela morte do companheiro durante a ditadura militar. Gosto dos detalhes que são tão realistas quanto simbólicos - uma porta não abre, a torneira está estragada. E com os operários que fazem a mudança dentro da casa (ecos de Tudo Bem, de Arnaldo Jabor). Vera/Ana Maria (Denise Fraga) percebe a presença do ex-companheiro, que volta para um ajuste de contas. A narrativa, em bloco, não faz distinção enmtre realidade e fantasia (ou alucinação). E tudo converge para a justificativa do título - Hoje -, que é realmente um momento forte (e emocionante). Mas eu fiquei empacado nesse realismo que nivela tudo. Impliquei com a boquinha que César Troncoso (o companheiro, Luís) fica fazendo o tempo todo. E também não sei se entendi o conceito. Todo mundo se queixa de que os torturadores não foram presos no País e que, ao contrário da Argentina, que exumou seus porões durante a ditadura, a Comissão da Verdade até hoje enfrenta resistências no Brasil. A questão do dinheiro, que está no filme, é relevante. É como se o Brasil, que nivelou todo mundo com a anistia, quisesse dizer a seus ex-perseguidos e torturados que peguem esse dinheiro, refaçam suas vidas, acabou. No filme de Tata, o passado volta para cobrar. Não como em Ação entre Amigos, quando eu ainda gostava de Beto Brant - revi duas ou três vezes seguidas no Canal Brasil Os Matadores e é muito bom -, sobre os amigos que se unem para se vingar do torturador. Em Hoje, o acerto não é com a ditadura, é interno, com o 'companheiro', que banca o opressor e, pelo menos num momento, ameaça a ex-mulher. Denise Fraga precisa matar César Troncoso no imaginário para seguir em frente. Entendo perfeitamente a psicanálise, acho a cena linda - o cachorro, puro instinto, invadindo a casa, impulsionando a dona para a rua, fora das quatro paredes -, mas terminei achando tudo esquemático demais. Talvez precise decantar mais o filme, que tanta sensação vem provocando desde Brasília, mas fiquei, como dizem os franceses, sur ma faim. Faminto pelo filme que vislumbrei, mas não encontrei.