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Uma geléia geral a partir do cinema

Flores raras

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

BERLIM - Para variar, tive ontem e hoje dias bem agitados, que me impediram de postar. Vou dar uma geral. Quem me leu hoje no jornal, viu que meu entusiasmo pela chilena Paulina Garcia nao diminuiu, e eu continuo torcendo para que ganhe o Silver Bear, Urso de Prata (de interpretacao), por Gloria. Mas surgiu uma romena, uma tal de Luminita Georghiu, que eh foda. Faz uma mae dominadora, pertencente aa autoritaria e corrupta elite da Romenia, heranca da ditadura de Ceaucescu, que passa como trator por cima de todo o mundo para tentar ptoteger o filho que atropelou e matou um garoto. A familia do menino eh pobre, o que acirra velhos ressentimentos de classes, e para complicar ainda mais a receita, o filho, o atropelador, odeia a maeh. Estah sendo um festival de mulheres fortes, bem mais que os homens, e Luminita, como a chilena, representa um tipo de mulher madura confrontada com o mundo. Paulina quer viver, Luminita quer op filho. Eh uma atriz que tem mazrcado presenca na nova geracao do cinema romeno, em filmes deCristi Puiu, Christian Mungiu e Corneliu Paromboiu. O filme chama-se Child`s Pose e o diretor, que assina seu terceiro trabalho, eh Calin Peter Netzer. A parir dai, as coisas se complicaram. Tinha as entrevistas com o russo Boris Khlebinikov e o alemaoh Thomas Anders. Redigi os textos para o jornal e corri para ver Love Battles, Mes Seances de Lutte, no Panorama, porque tambem queria entrevistar Jacques Doillon, o que fiz hoje (e foi otimo). Soh que, para ver Reaching for the Moon, de Bruno Barreto, perdi a sessao de imprensa de Camille Claudel 1915, de Bruno Dumonrt, que tive de recuperar hoje e isso embolou minha tarde. Sorry, mas nao gostei muito de Reaching, nem estetica nem politicamente. Nao gostei nem de Gloria Pires, uma atriz que normalmente admiro, como Lotya de Macedo Soares, uma sapa de coturno meio pesada demais para o meu gosto. Em compensacao, e mesmo gostando de Miranda Otto, a pricesa Eowyn de O Senhor dos Aneis, achei-a esplendorosa como Elizabeth Bishop e eh perna que o filme nao esteja na competicao, porquer bem poderia lhe render um Urso. O proprio Bruno, por menos que tenha gostado - e terei tempo de explicar meus motivos; o filme estreia em 24 de maio no Brasil -, poderia ter emplacado a competicao. Tem coisas muito piores por aqui e o filme dele, exibido na segunda maior sala do festival - o Friedrichstad Palast -, foi de longe a mais aplaudida das sessoes a que assisti, mais do que as do palacio e muito mais do que qualquer filme das sessoes de imprensa. Hoje, assisti a Closed Courtain, de Jafar Panahi, que codirige e atua. Com todo respeito pelo cineasta confinado no Ira e seu esforco para seguir trabalhando, o osso foi duro. Mais metalinguagem - Isso nao eh um filme 2, sobre um homem que se isola para proteger seu cachorro. O islamismo radical considera que  caes sao impuros e eles estaoh sendo exterminados - pode uma coisa dessas? O cachorro, por sinal, eh otimo ator. Cannes atribui um premio de interpretacao canina. Berlim poderia seguir o exemplo e por menos que tenha gostado de Cortina Fechada, o cao jah teria ganhado. Sim, consegui recuperar a Camille de Dumont, que ele filma jah confinada no sanatorio para doentesd mentais. Surge o irmao, Paul Claudel, grande escritor mas catolico de carteirinha, do tipo que nao mata cachorro mas confina a irma e ainda busca justificativas divinas para o ato. Eu, hein? Orlando Margarido amou e achou que Juliette Binoche eh a Falconeti de Bruno Dumont. Menos, Orlando, menos. Gosto muito do autor, e da atriz, mas dessa vez a ascese nao me pegou.

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