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Uma geléia geral a partir do cinema

Filmes são para sempre

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Nos últimos anos têm sido editadas uma série de coletâneas de críticas. Eu mesmo fui homenageado pela Prefeitura de Porto Alegre com a publicação de um livro que reúne meus textos de cinema na fase em que residia/trabalhava em Porto Alegre. Também fiz a apresentação do volume da coleção da Imprensa Oficial dedicado a Edmar Pereira, grande crítico a quem conheci quando vim para São Paulo e ele escrevia no Jornal da Tarde, cuja redação ficava do lado da do Estado. Tudo isso é para chegar à coletânea organizada por Heloisa Seixas, reunindo, sob o título Um Filme É para Sempre, 60 textos sobre cinema do Ruy Castro. A edição, caprichadíssima, é da Companhia das Letras. Creio que o Ruy não vai ficar aborrecido comigo se disser que o livro não é bem uma coletânia de críticas, o que a Heloisa também assume, definindo os textos como artigos. Em compensaçãso, quero dizer que tive um prazer imenso lendo Um Filme É para Sempre e, mesmo conhecendo um pouco da trívia relatada pelo Ruy, descobri novas (e saborosas) histórias que não conhecia. O foco do Ruy é a Hollywood dos anos de ouro. Acho que nem Rubens Ewald sabe tanto sobre o assunto quanto ele. O cinema europeu e o latino são praticamente ignorados, embora exista um artigo primoroso sobre astros e estrelas do cinema mexicano (Algo Deliciosamente Canastrão). Lendo o livro do Ruy, o que ele escreve sobre John Wayne (Enterrado com o Western), tive uma ponta de saudade do Antônio Moniz Vianna, cujas críticas no Correio da Manhã, quando tinha oportunidade de lê-las, em Porto Alegre, me marcaram muito. Acho que era impossível ler o Moniz Vianna sem ficar, como ele, apaixonado pelo John Ford. Cacá Diegues lembrou-o no debate Os Melhores Filmes de Nossas Vidas, do qual participei, durante o Festival do Rio. Pelos padrões da época (CPC da UNE, Cinema Novo), Moniz Vianna, nos anos 60, devia ser reacionário, mas eu, jovem ainda, e inexperiente, amava os textos dele. Moniz Vianna abandonou a crítica, mas na sua grande fase, embora admirasse autores europeus (o neo-realismo mais que a nouvelle vague, até onde me lembro), era americanófilo como o Ruy. Só que, na verdade, um e outro amavam (amam) o cinema, acima de tudo, um certo cinema, amor que nos levam a compartilhar com a magia da escrita. A Sessão Passatempo, página 304 do livro do Ruy, é um regalo. E, como diz o autor, é um jogo que não tem fim, quando se começa a jogá-lo.

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