Foto do(a) blog

Uma geléia geral a partir do cinema

Festival de Gramado (17)/Nóis sofre mais goza

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

PORTO ALEGRE - No sábado pela manhã, ainda em Gramado, encontrei Paulo Betti no corredor do Hotel Serra Azul e me desculpei. Neste ano de debates sobre o empoderamento de mulheres e trans, atribuí um comentário à mulher dele aqui no blog. Ele tirou onda comigo. Disse à mulher o que eu havia feito e ela veio, divertidamente indignada - é humorista -, me cobrar. "Cacete, Merten, eu sou mulher dele e com muito orgulho, mas tenho minha identidade, que lutei muito para afirmar." Dadá Coelho, adorei te conhecer. Narro o incidente porque acho que tem tudo a ver com o que vivemos nestes 9 dias na serra gaúcha. O discurso de gênero foi muito forte em Gramado, 2017. Refletiu-se na premiação e nos discursos de agradecimento. Laís Bodanzky, diretora premiada de Como Nossos Pais - e o filme recebeu mais cinco prêmios, entre eles o principal -, levantou justamente a questão da representatividade. 'Será que as mulheres não querem dirigir e roteirizar? Só 15% da indústria do audiovisual do roteiro e da direção são formados por mulheres. Por que?' E Paulo Vilhena, melhor ator, protestando contra a decisão de Temer de liberar uma área da Amazônia para mineração. 'O cara que está lá (na presidência) querer nos prejudicar até entendemos. Somos adultos. Mas querer prejudicar nossos filhos e netos...' Paulo - ele pode não ligar, mas eu, particularmente, odiava quando as empoderadas, na mesa de Como Nossos Pais, o tratavam como 'Paulinho'; é tão desrespeitoso quanto tratar Dadá como 'mulher de Paulo Betti', e já fiz meu mea culpa -, pois bem, Paulo cobrou atitude. 'Fora Temer e viva a Amazônia'. Acho que o engajamento, na tela e fora dela, deu o tom do 45.º Festival de Gramado. O discurso de Cali dos Anjos, na mesa de curtas, falando de Tailor, que lhe deu o prêmio de direção - 'Nós sofremos preconceito, mas a vida não é só isso. Temos alegria, também.' Nóis sofre mais nóis goza, José Simão. Foi, em definitivo, um dos (meus) melhores festivais de Gramado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.