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Uma geléia geral a partir do cinema

Esse Chazelle não é fácil

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Tomei um choque hoje vendo Whiplash, o longa de Damien Chazelle que estreia quinta, já aureolado da reputação de filme para o Oscar. Chazelle é um carinha de 29 anos. Vi uma foto dele e não acreditei. É um sonho de virgem, um moleque. Podia ser galã em Hollywood. O filme trata da selvagem relação entre um garoto que sonha ser gênio da bateria e o regente da banda universitária em que faz seu aprendizado - de vida e arte. Estou tentando entender por que J.K. Simmons concorre ao Globo de Ouro de ator coadjuvante de drama. Ele devia concorrer na categoria melhor ator e, aliás, já deveria ter ganhado. O garoto é  Miles Teller, que deve fazer o próximo Quarteto Fantástico. Jotabê Medeiros viu hoje o filme comigo e com Luiz Zanin Oricchio na cabine da Sony. Ao chegarmos à redação, Jotabê me mostrou a capa da Ilustrada sobre o filme. Ridículo! Vá saber por que, mas botaram o pobre Teller de cabeça para baixo. Não tem nada a ver com Whiplash e se era por causa dos comics - Quarteto Fantástico não é Homem-Aranha. Alô-ô! Whiplash é muito bem editado, musicado, interpretado. Chazelle filma o jazz como competição, mas sua referência é Stanley Kubrick. Full Metal Jacket, Nascido para Matar. O recruta e o brutal sargento instrutor ganham versões musicais. Amei. Lembrei-me de que na revista Film Comment de setembro/outubro, com Garota Exemplar na capa, havia um texto sobre Whiplash. Quem escreve é Chris Norris. Ele diz uma coisa muito interessante. Que os melhores momentos de Whiplash não derivam de Brilhante/Shine nem de Nascido para Matar ou de Cisne Negro, mas de Breaking Away/O Vencedor, de Peter Yates, de 1979. Não sei se concordo, porque Kubrick é fundamental, mas é curioso, o paralelo com O Vencedor. Uma competição de bicicletas, outra de músicos de jazz. Onde está, o que é o limite - pessoal e artístico? Whiplash fala de amor e sadismo. J.K. Simmons indaga seus discípulos sobre a vida familiar somente para jogar na cara deles, depois. Simmons é um sádico, um monstro, mas o diretor é mais que ele. No desfecho, Teller está fugindo do que Simmons representa, mas aí olha para o pai e dá-se conta de que mais vale superar seus demônios, para não ser um m... como ele. Crueldade pura - ou lucidez de Chazelle? Só sei que esse Oscar está pintando bom. Wild/Livre, Whiplash e amanhã O Invencível, de Angelina Jolie. Os dois primeiros superaram minhas mais ardentes expectativas.

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