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Uma geléia geral a partir do cinema

Em busca do novo

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Daniel me pede que poste sugestões arriscadas na programação da Mostra, como 'Japón', 'Honor de Cavalleria' e 'Hamaca Paraguaya', em anos anteriores (e os dois últimos no ano passado). Como, Daniel? Uma coisa que estou sentindo na programação deste ano é que ela está muito centrada em nomes consagrados. Não é um fenômeno da Mostra. Em Cannes, Berlim, a crítica também reclamava das seleções. Os 'nomões' dominam a competição, o interessante vai para as seções paralelas. 'Cahiers du Cinéma', comentando a seleção de Cannes deste ano, pôs nas nuvens os filmes da Semana da Crítica, e começou elogiando justamente 'A Via Láctea', de Lina Chamie, que é ótimo. Para o meu gosto pessoal, não encontro nada muito excitante. Isso não é exatamente verdade, porque gosto de um certo número de filmes - 'Sombras de Goya', 'O Assassinato de Jesse James', 'Desejo e Reparação', 'A Casa das Cotovias'. São o contrário das minhas escolhas no ano passado. Os filmes de 2006 eram ascéticos, duros, muita gente nova. Os de agora são exaltados, assinados por diretores consagrados, ou que pertencem ao cinemão (astros e estrelas). Entre os latinos e íbero-americanos, que tanto surpreenderam no ano passado, o que temos este ano? Filmes bons, mas 'palatáveis', não exatamente arriscados nem experimentais, do ponto de vista da linguagem, como 'Nascido y Criado', do Trapero (que a Videofilmes vai distribuir) e 'O Banheiro do Papa', de César Charlone e Enrique Fernández (que me deu um branco agora, mas acho que também é da Videofilmes ou da Downtown - Ana Luiza Müller é a assessora). O melhor latino deste ano é 'Cochochi', produzido pela Canana, a empresa de Gael García Bernal e Diego Luna, bastante superior a 'Deficit' (que Gael dirigiu) e 'O Búfalo da Noite', que Diego interpreta e se baseia num romance de Guillermo Arriaga). Entre os brasileiros, temos o citado 'A Via Láctea', 'Mutum', que é maravilhoso, 'O Estômago' e 'Jogo de Cena' (Coutinho, Coutinho, Coutinho). Ponho fé no Milcho Manchevski, mas ainda não vi 'Sombras', programado para hoje. 'Antes da Chuva', que deu o Leão de Ouro ao diretor, é maravilhoso. Manchevski era um dos convidados anunciados da Mostra. Não vem mais. Seria interessamnte conversar com ele, quanto mais não seja para descobrir porque um diretor que parecia tão talentoso anda fora do circuito, até mesmo de arte. Gostaria muito que vocês vissem 'Luz Silenciosa', de Carlos Reygadas, o diretor de 'Japón', que ganhou o prêmio da crítica no Rio, mas não encontrei o filme na programação. Fiquei deslumbrado pela luz do Reygadas, mas isso não significa que esteja elogiando a fotografia, apenas. Achei sensacional o diálogo do cineasta mexicano com o Dreyer de 'Ordet' (A Palavra), que é um dos filmes mais perturbadores que já vi. Lembro-me que o assisti pela primeira vez em Buenos Aires, no começo dos anos 70. Muitos de vocês nem eram nascidos, eu morava em Porto Alegre, já escrevia em jornal - 'Folha da Manhã', na época - e ia regularmente ao Uruguai e à Argentina, cujas cinematecas me alimentavam. Entrei em digressão. Dou as dicas de hoje no próximo post. E vou fazer o que recomenda Leon Cakoff. Vou entrar em qualquer filme, de qualquer sessão, fugindo dos nomes que conheço. Quero ser surpreendido!

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