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Uma geléia geral a partir do cinema

'Elvira Madigan'

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Antônio Gonçalves Filho mwe segreda que já devem estar chegando às lojas dois lançamentos de arromba da Versátil. Um deles é 'Pickpocket', de Robert Bresson, na verdade um relançamento, e agora cheio de extras. O outro é o filme sueco 'Elvira Madigan', de Bo Widerberg, de 1967, que conta uma história de amor impossível na Suécia do século 19, por aí. Pia Degermaerk faz artista de circo que se envolve com oficial casado (Tommy Berggen) e os dois fogem. Narrado em belíssimas cores, o filme às vezes dá a impressão de ser uma peça de propaganda, mas na verdade o que Widerberg conta entra em choque com a própria beleza da imagem - os amantes são perseguidos, hostilizados, discriminados e lá pelas estão morrendo de fome, comendo morangos silvestres, mas a imagem continua deslumbrante, emoldurada pela trilha de Mozart. A hisatória é real e já havia sido filmada nos anos 40, mas não de forma tão estilizada (nem com tanta suntuosidade audiovisual). Mais até do que os filmes de Bergman, 'Elvira Madigan' foi um grande êxito do cinema sueco em todo o mundo e o próprio concerto de piano de Mozart, o número 21, com seu andante, passou a ser conhecido pelo nome do filme e da heroína. Tenho muita curiosidade de (re)ver 'Elvira Madigan', e não é de agora. Do ponto de vista estritamente visual, é um dos filmes mais bonitos que vi, com 'As Duas Faces da Felicidade' (Le Bonheur), de Agnès Varda; 'Dois Destinos' (Cronaca Familiare), de Valerio Zurlini; e 'Quem Matou Leda? (À Double Tour)', um policial de Chabrol que tinha uma cena num campo de papoulas que faz parte das minhas emoções inesquecíveis. Nunca esqueci aquelas manchas vermelhas no jardim da tela, que Chabrol - com fotografia de Henri Decae - transformava em metáforas do sangue derramado da Leda do título. Curioso. Só agora, escrevendo o post, dou-me conta de que esses três filmes são do começo dos anos 60, de 61 e 62. 'Elvira Madigan' veio um pouco depois, mas na mesma década. Eu era tão mais jovem. Será que toda essa beleza que estou tentando descrever tem algo a ver com isso? Embora a cor já viesse sendo utilizada desde os anos 30, por volta de 1960 os filmes ainda eram produzidos meio a meio em cor e preto-e-branco (acho que até mais em P&B). Foi Truffaut, se não me engano, quem disse que os filmes em preto-e-branco eram mais bonitos e que a cor os estava banalizando. Ele falava no geral, claro, pois foi o desenvolvolvimento da cor (e da cenografia) que levou ao apogeu do musical (e de autores como George Cukor e Vincente Minnelli). Mas filmes bonitos, assim como esses, acho que nunca mais.

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