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Uma geléia geral a partir do cinema

E vocês não me contaram?!

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Deveria ter perseverado mais, ontem à noite. Também - a culpa é de vocês. (Brincadeirinha...) Não me avisaram que Steven Spíelberg iria receber um prêmio especial, por sua carreira, no Globo de Ouro. O prêmio, contou-me o Bira - meu colega Ubiratan Brasil -, foi entregue por Martin Scorsese. Leva o título de Cecil B. de Mille Award. Spielberg lembrou que tinha seis anos quando seu pai o levou para ver 'O Maior Espetáculo da Terra', que ganhou o Oscar de melhor filme de 1952, mas o de melhor diretor não foi para De Mille e sim, para o John Ford de 'Depois do Vendaval'. Spielberg contou que havia entrado à tarde no cinema. O filme é longo. Saiu à noite, impressionado, na sua cabecinha infantil, de que o cinema pudesse transformar o dia em noite. Logo em seguida, ele contou, ganhou do pai um trenzinho elétrico, com o qual vivia reproduzindo o acidente de trem do filme. Para complicar, houve um choque de trens em Pensilvânia, com vítimas. O pai de Spielberg achou que era melhor parar com as brincadeiras. O que fez? Deu ao filho uma câmera, sua primeira. Spielberg, claro, usou-a para filmar o choque de seu trem de brinquedo. Psicanaliticamente, talvez esteja aí a origem de sua estética dos efeitos. Fascinação pela tragédia, contestatação da autoridade paterna, que o diretor transferiu para as instituições - o governo se apropria da arca perdida, os militares querem o ET para eles , a autoridade confina o estrangeiro no terminal etc. Alguém poderia lembrar que a vinculação de Spielberg a De Mille, que dá nome ao prêmio que ele recebeu, é uma coisa mais profunda. De Mille virou sinônimo de Hollywood no que tem de gigantismo. Jerry Lewis demoliu-o num de seus primeiros filmes, quando o mensageiro trapalhão entra no estúdio, puxa um barbante e desmonta a armação de papel que é a nova superprodução 'demilleana' em rodagem na Paramount. De minha parte, adoro a piada de Jerry, mas não consigo ser radical com DeMille. 'Sansão e Dalila' possui um erotismo que me arrebata e o western 'Jornadas Heróicas', com Gary Cooper como Wild Bill Hicok, é sensacional. Spielberg, como cria de DeMille, teria sofrido muito tempo da síndrome de Peter Pan. Psicanálise mais infantil. É - talvez eu devesse ter insistido e passado a fase da premiação de TV no Globo de Ouro, que não me interessa. A homenagem a Spielberg, pelo visto, teria valido a pena. Bira me contou que houve outra bela homenagem a Heath Ledger, quando o diretor Christopher Nolan recebeu o Globo de Ouro de melhor coadjuvante, que o ator recebeu, postumamente, por sua criação como Coringa, em 'Batman - O Cavaleiro das Trevas'. Mas eu confesso que gostaria mesmo de ter visto a dupla vitória de Kate Winslet. Como ela era boa em 'Pecados Inocentes'. Como era bom o filme de Todd Field! Kate é tudo.

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