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Uma geléia geral a partir do cinema

E quando as pistas são falsas, o que é verdadeiro? O Professor Substituto e Você Só Morre Duas Vezes

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Ainda não tinha visto O Professor Substituto, de Sébastien Marnier, com Laurent Lafitte, o estuprador de Elle, de Paul Verhoeven. Benza Deus! Havia ouvido maravilhas sobre o filme, e não vou negar que me impressionei - gosto muito de Emmanuelle Bercot -, mas é daqueles filmes que me desconcertam e eu fico sem saber se, ou quanto, gostei. Chama-se, no original, A Hora da Saída, L'Heure de la Sortie, e não é bem a saída da escola, embora boa parte da ação se passe dentro da sala de aula, onde Lafitte substitui professor que tentou se matar diante dos alunos (e agora está em coma). A horta da saída é outra - suicídio, violência?? Socorro! Parem o mundo que quero descer - brincadeirinha. Os alunos são superdotados, possuem uma inteligência excepcional. Formam um grupo à parte, hostilizados pelos colegas, aos quais ignoram. Hostilizam o professor. Os alunos formam uma brigada fascista? São críticos em relação ao estado do mundo, mas cultivam, entre eles, a violência, infringindo-se (uns aos outros) dor física. Marnier com certeza viu Aldeia dos Amaldiçoados, de Wolf Rila, um clássico britânico de ficção científica e horror, de 1960, que John Carpenter refilmou nos 90. Apesar da boa reputação de Carpenter, o original é muito mais forte. Aquelas crianças loiras, de olhar penetrante, quem são elas? O que querem agora esses jovens? Lafitte, o personagem, é um estranho no ninho. É gay discreto, mas um tipão por quem as mulheres se interessam. Marnier enche seu filme de pistas - falsas. Propõe uma solução, um desfecho, que não sei se é o melhor, mas seu filme é bom. Por falar em pistas falsas, são muito interessantes. Na arte e na vida, muitas coisas que se apresentam como verdadeiras para a gente são 'fake', levando a supor uma coisa quando, na verdade, são outra. Assisti ontem no Festival Judaico a um filme muito bom - Você Só Morre Duas Vezes, do diretor israelense Yair Levi, que esteve presente à sessão e no final conversou com o público. Orlando Margarido também estava e fomos jantar num italiano ótimo aqui de Pinheiros, que não conhecia, preciso descobrir o nome para recomendar. Você Só Morre é documentário premiado, mas narrado numa estrutura de gênero, como ficção policial. A mãe do diretor recebe um telefonema. Moram em Tel-Aviv, e ela está recebendo a herança de um parente distante, na Áustria. O advogado lhe pede documentos, e as certidões de óbito não batem. Os números de nascimento, registro, etc, coincidem, mas a data, as datas de morte são diferentes. O primo avô austríaco foi um rabino importante, líder da comunidade judaica por mais de dez anos. Yair investiga e começa a descobrir certas conexões nazistas. Seria o falso avô um nazista que teria adotado essa identidade para escapar de seus crimes, após a guerra? Além de nunca falar sobre seu passado, ele não parecia saber muito sobre tradições judaicas, o que não o impediu de ocupar seu cargo. No final, fica provado que era judeu. Por que um judeu assume a identidade de outro? Como uma família ligada aos SA e aos SS admitiu esse casamento da garota católica com o judeu? Muitas perguntas, nem todas respondidas, e o diretor diz que não é função do documentário fornecer respostas para tudo. O que lhe interessava era o mistério contido nessa histórias intrigante. Gostei muito de ter visto Você Só Morre Duas Vezes, e o filme de Yair Lev ficou comigo. Tenho de ir ao jornal hoje à tarde, mas gostaria de ver Histórioa de Um Cão, no Festival Judaico, também na Hebraica. Não sei se vou conseguir ir do Estadão, no Limão, à Marginal Pinheiros, mesmo que seja domingo, em horário hábil (5 da tarde, o filme é às 6, e hoje tem almoço de Dia dos Pais, o que deve me atrasar). Mais próximo, tem uma peça que também quero ver, Projeto Revide, de Herbert Bianchi e Letícia Sobral, no Teatro Cacilda Becker, às 7. Seja o que for, e as condições permitirem, algo verei. Feliz Dioa dos Pais.

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