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Uma geléia geral a partir do cinema

É possível, sim

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

É quase um desdobramento do post anterior, mas a APCA atribuiu seu prêmio de direção de cinema a Selton Mello, por 'O Palhaço'. Votei no Selton, mas não votei no filme dele e não porque não goste ou não reconheça méritos em 'O Palhaço'. De qualquer maneira, não teria interferido, porque o melhor filme já estava encaminhado e eu teria de objetar, ou recusar firmemente, o que não era o caso. Creio que 'O Palhaço' representa um avanço gigantesco para o Selton diretor, porque confesso que digeri mal o 'Feliz Natal'. Já o novo filme, além de diverso, é bonito, mas há um tom menor que não é que me desagrade, não é isso, porque 'O Palhaço' me parece delicado, bom (e o Paulo José é maravilhoso na cena em que dispensa a amante jovem que está desviando dinheiro do circo). A questão é que o filme não me 'levanta', se vocês entendem o que quero dizer. Ainda não revi 'O Palhaço' e da primeira vez ele me deixou um pouco deprimido, triste (apesar da pirueta final para 'cima'). Vou ter de rever e agora mais que nunca. Estou feliz da vida com o sucesso do filme do Selton e, principalmente, com o fato de me haver equivocado. Em Gramado, comentei com a produtora Vânia Cattani que era um filme difícil de 'vender' e até me irritei quando ela retrucou alguma coisa do tipo que não faz filmes para vender e saiu andando, como se eu fosse o inimigo na trincheira. Conversei com o Selton no set de 'Billi Pig', de José Eduardo Belmonte, e ambos estavam com um discurso parecido, a defesa da terceira via para a produção nacional, como Pascale Ferran fez na França, após a sua 'Lady Chatterley'. Selton e Belmonte acreditam que o cinema do País não pode ficar dividido entre filmes miúra, sem bilheteria nenhuma, e outros sem a menor dose de reflexão e que fazem todo tipo de concessão em nome do sucesso de público. Louvava o esforço, mas achava que 'O Palhaço' talvez fosse penar no 'mercado'. O público - e Selton, e Vânia, e a distribuidora Imagem, que apostou forte, lançando 'O Palhaço' com cerca de 200 cópias - me deram uma lição. O filme está batendo na casa do 1,3 milhão de espectadores, é o maior sucesso da Bananeira (a produtora de Vânia Cattani) e não duvido que esteja no patamar de 'Jean Charles', com o Selton ator e que nasceu com vocação de blockbuster (mas não se pode dizer que seja 'descerebrado'). Por que estou falando tudo isso? Porque daqui a pouco um carro do jornal passa em minha casa para me levar ao cinespaço Square, na Granja Vianna, onde, às 11h30 - e com entrada grátis -, Selton dá o pontapé inicial para o ciclo em sua homenagem, resgatando filmes que fez como ator e diretor. Por mais respeito que tenha por Wagner Moura, Lázaro Ramos, João Miguel, Matheus Nachtergaelel e outros grandes atores da nova geração, acho que foi Selton quem deu uma cara ao cinema da Retomada, não apenas pela quantidade de filmes, mas também pela qualidade das interpretações. O cara é f... e não quero pressionar o Belmonte, mas, cara, 1,3 milhão não é mole, não. O 'Billi', com o próprio Selton (como ator), vai ter fôlego? Espero que sim.

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