Foto do(a) blog

Uma geléia geral a partir do cinema

E por que não se cobra humor de 'O Garoto Selvagem'?

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Deu a louca no mundo. Meu amigo André Miranda havia detonado o Tarzan de David Yates dizendo que faltava humor. Queria mais Chita na trama, ou queria Chita, uma criação dos roteiristas de Hollywood cujo único significado é distanciar o Tarzan do cinema daquele dos livros de Edgar Rice Burroughs. Hugh Hudson, em Greystoke, e Yates, em Tarzan, estão mais na trilha de O Garoto Selvagem, e me pergunto se alguém teria coragem de cobrar de François Truffaut mais humor, ou simplesmente humor, na sua abordagem da história de Victor de Aveyron? A dor de Victor, uivando para a lua, e a de Tarzan, velando nos braços a mãe macaca, Kala, é tudo a mesma coisa, e pungente. André, vou pegar meu amigo para Cristo, também achou Esquadrão Suicida constrangedor, e disse que é difícil falar do filme sem recorrer a palavrões para expressar a indignação. Na capa da Folha, o crítico de plantão também diz que só Arlequina salva o filme da falta de humor da equipe. Furtei-me ao (des)prazer de ler os textos porque vejo esses filmes - Tarzan e o Esquadrão Suicida de David Ayer - de forma diferente. O humor, presente na fantasia de Ayer, é só um tempero para o que interessa, e é o drama. Todos aqueles personagens esquisitos são atravessados pelo drama e pela tragédia. Arlequina é viciada no Coringa, depende dele. El Diablo carrega a dor de haver destruído a própria família. E Pistoleiro quer ser simplesmente o pai que acha que sua filha precisa. Amanda Haller reconhece as fraquezas de cada um de seus vilões e não tem o menor pudor, como representação do 'poder', em manipulá-los. É a verdadeira mente criminosa de Esquadrão Suicida. Não vejo nada de constrangedor no filme, e nem queria mais humor. Para quê? A questão é essa. Diante da chamada cultura de massa, os 'críticos' não se preocupam, minimamente, com o que o diretor está querendo dizer ou fazer. Todo filme de David Ayer - Guerra Mundial Z, Corações de Ferro etc - tem humor, mas basicamente são tragédias de homens (e mulheres) desajustados, que dançam conforme a própria música e pagam por isso. Se Esquadrão Suicida vai fazer sucesso ou não, não sei, mas espero que sim. É o Anti-Vingadores, e muito melhor que Vingadores 2, que arrebentou na bilheteria. É o Guardiões da Galáxia 'sério', em termos, e só não vou dizer que também é melhor porque, afinal, Chris Pratt e aquela raposa são nota 10. Aproveito o post para dizer que havia visto o novo Star Trek em Nova York. Resolvi rever ontem, na cabine de imprensa, e foi melhor assim. Respeito muito Justin Lin e acho Velozes e Furiosos 6 o melhor filme da série. Havia me decepcionado um pouco com o Sem Fronteiras, mas talvez estivesse tenso, prestando atenção no diálogo em inglês. Rever com legendas me relaxou, e eu, que já havia gostado da homenagem a Spock/Leonard Nimoy, me emocionei de verdade quando o grupo se reúne, no final, para celebrar a próxima viagem. Os personagens vão chegando e, entre eles, o Anton Yelchin, que morreu há pouco, de forma tão trágica. Nunca mais Anton na saga intergaláctica. Pode ser que não tenha nada a ver com a dramaturgia do filme, mas achei muito bonito. Acho que os trekkers de carteirinha também vão gostar.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.