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Uma geléia geral a partir do cinema

E o som, meu Deus?

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Volto a 'Anticristo' apenas para completar um pensamento. Achei muito arrogante de minha parte, um leigo, dizer que o filme de Lars Von Trier dispensa as ferramentas da psicanálise. Com as chaves de Freud, qualquer filme pode ser (psic)analisado. O problema é o tipo de análise. Quando é rasa, ela não soma nada à compreensão da obra. Acho muito mais interessante investigar 'Anticristo' como exercício de cinema, ou pelas vias da mitologia e da tragédia (que também se prestam, e como!, à psicanálise). O som do filme, por exemplo, me deixou louco. A música, no começo e no fim, é essencial, mas o que dizer do desenho sonoro, dos ruídos daquela floresta que vão atuando sobre o espectador como sobre os personagens? Acho que já registrei aqui. No Rio, Agnès Varda disse que o cinema desvenda a paisagem interior e que a dela é a praia. Seu filme, 'Les Plages d'Agnès', foi um dos mais belos exibidos no Festival do Rio. Devo ter postado alguma coisa pegando carona na Agnès para falar do sertão como espaço interior de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz no maravilhoso 'Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo', mas não posso deixar de registrar a floresta como espaço interior dos personagens de Lars Von Trier (e, talvez, do autor). Coisa mais misteriosa e carregada de signos. O som, a imagem - as imagens. A vida animal, a vegetal. Os tons daqueles verdes, a cova da raposa, a ponte, a árvore seca, fálica, o ruído intermitente das bolotas caindo. Já disse e repito. Acho que é possível ver cem vezes um filme como este e continuar descobrindo coisas. A questão é saber se o público terá paciência. Ontem, algumas pessoas não aguentaram e saíram no meio. Foram poucas, mas saíram. A imensa maioria ficou e muitos permaneceram até o fim, até que os créditos se encerrassem, certamente soterrados pela intensidade do filme.

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