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Uma geléia geral a partir do cinema

É bela!

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Nem tive tempo de postar. Na quinta, anteontem, ocorreu uma coisa inédita na minha vida. Tinha muitas matérias para a edição de sexta do 'Caderno 2', umas oito, fora os filmes na TV. Algumas entrevistas, críticas, mas também uma - sobre o lançamento em Blu-Ray da caixa de 'Star Wars' - que envolvia certo grau de pesquisa. Pela primeira vez na vida atrasei uma edição, acho que uns 20 minutos e o Ubiratan Brasil, meu editor, ainda derrubou as matéria do ciclo do Masumura, que está no 'Caderno 2' de hoje. Não vou dizer - que pesadelo! Adoro essa adrenalina. Intimamente, fiquei feliz quando me cumprimentaram pelo texto de 'Star Wars'. Foi o último que redigi. Digitei furiosamente, sem parar para pensar. Só que aquilo fizesse algum sentido já me pareceria bom. Que tenham gostado e até achado analítico, crítico, me parece maravilhoso. Na quarta, fiquei quase uma hora ao telefone com Claire Denis. Depois de alguns desencontros, consegui localizá-la em casa, à noite, em Paris. Liguei da minha casa, ficamos uma hora ou mais ao telefone, ligação para celular, não quero nem ver a conta quando chegar. Talvez tenha pagado para trabalhar, mas o prazer de falar com uma autora a quem admiro, tudo compensa. Claire está sendo homenageada com uma retrospectiva no Indie 2011, que começou ontem. Há outro homenageado, Béla Tarr. Comecei a redigir este post no fim da manhã, faltou luz e agora eu vi que o rascunho ficou no sistema. No original, dizia que, às 15h30, no CineSesc, passava 'Chocolate', o primeiro filme de Claire. Vou ter de colocar no passado - passou. Amanhã, no mesmo local, às 18h30, a atração, e põe atração nisso!, é o último de Béla Tarr, o último mesmo, porque em Berlim, neste ano, ele anunciou que está deixando o cinema. 'Cavalo de Turim' é impressionante. E, na segunda, às 21h30, teremos de novo Claire Denis, 'O Intruso', baseado no relato de Jean-Luc Nancy. Ele é filósofo, mas a chave do texto é outra. Nancy reflete sobre o transplante que recebeu, sobre a expectativa de uma nova vida, com um novo coração. O problema é que o velho corpo cansado carrega a carga de uma vida inteira que não pode, simplesmente, ser anulada. Conversei longamente com Claire sobre o que significa isso - ser 'indie'. Ela disse que aprendeu com Wim Wenders que a economia do filme, o sistema de produção é tão importante quanto o roteiro e determina sua estética e seu tamanho. Mas ser 'indie' não foi uma escolha, terminou sendo uma circunstância. e ela não tem preconceito com o mainstream. Ricardo Pretti também não tem. Terminei a entrevista com Claire Denis e corri para o Espaço Unibanco, na Augusta, onde ele me esperava. Conversamos no café da esquina da Antônio Carlos. Ricardo, gêmeo de Luiz, integra o coletivo Alumbramento, também o nome da produtora deles, de Fortaleza, que tem feito aqueles filmes lindos. 'Estrada para Ythaca', 'Estrada para Ythaca', 'Estrada para Ythaca'. Ontem, estreou 'Os Monstros'. Os irmãos Pretti e os primos Parente, Guto e Pedro Diógenes, deveriam ter vindo a São Paulo para o lançamento, mas a distribuidora Vitrine, de Sílvia Cruz, é pequena e quatro passagens Fortaleza/São Paulo/Fortaleza são mais dinheiro que os garotos têm gastado em seus filmes. Os Pretti/Parente surgiram na Mostra Aurora, do Festival de Tiradentes, que virou a grande vitrine (agora minúscula, mas nem por isso menos importante) das novas tendências estéticas do cinema brasileiro. Ricardo faz esses filmes 100% autorais, mas me confessou que adora, como é mesmo o título, 'A Casa do Lago'?, com Sandra Bullock. Senti-me em casa, conversando com ele. Tenho colegas que gostam de filmes, eu tenho a impressão de gostar de 'cinema'. Não um tipo de filme, não uma tendência, mas várias, múltiplas, todas. O importante é que seja bom. Tanto filme de arte de m... que existe, e não digo para provocar nem chocar. É mera constatação. Estou salvando o post rascunhado pela manhã. Fui almoçar com a Lúcia e o Érico no Rascal do Shopping Higienópolis. Estou louco paras postar sobre 'A Crônica da Casa Assassinada', de meus amigos Dib Carneiro e Gabriel Villela, que estreou ontem à noite no Sesc Vila Mariana, após a temporada no Rio. O espaço do teatro serviu à mise-en-scène, o espetáculo ficou mais operístico e Xuxa Lopes, de quem eu não havia gostado muito no Rio, achou o tom e está dizendo o texto de uma forma que me deixou chapado. O desfecho, com a cena da mesa, é de uma beleza, e de uma intensidade, que cortam o fôlego. Meu amigo Vilmar Ledesma foi ver e, na saída, comentou - ele é vidrado no livro de Lúcio Cardoso -, que os Mewneses estão inteiros no palco. Em uma hora de espetáculo concentrado. Daqui a pouco, volto ao teatro, para ver 'A Flauta Mágica'. Mozart 'by' Peter Brook. A tosse, a catarreira - argh! - são muito desagradáveis, mas, apesar disso, estou eufórico. Tanta coisa boa para ver, o sucesso dos amigos talentosos. Como não exultar? A vida, apesar de tudo, é bela.

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