Luiz Carlos Merten
20 de maio de 2014 | 05h46
CANNES – Embolou! Depois do deslumbrante filme de Naomni Kawase, na noite de ontem, os irmaos Dardenne voltaram agora pela manhã com um de seus melhores filmes. Esqueçaa Lorna, o próprio garoto da bicicleta. Pode até ser que Deux Jours, Une Nuit nao tire a Palma de Ainda a Agua, mas Marion Cotillard passa a reinar sozinha como melhor atriz. Essa mulher nao existe – sexy, glamourosa, depressiva, despenteada, pobretona, ela eh sempre super. Não tem nada a ver, claro, mas ela me lembra Sophia Loren, a madrinha de Cannes Classics neste ano. Sophia sempre foi boa, fazendo a milionaria como a mulher do povo. O novo filme dos irmaos Dardenne jah comeca no meio de um drama poderoso. No livro com a entrevista para Francois Truffaut, Alfred Hitchcock conta que chegou a desistir de alguns projetos que comecavam muito fortes porque ele nao conseguia manter depois a mesma intensidade., Os Dardenne conseguem, gracas ah atriz deles. Marion faz uma operaria que contacta colegas de trabalho num fim de semana. Ela estah para ser despedida e tem de convence-los a desistir de um bonus, para que possa ficar. Todo mundo precisa do dinheiro. Eh o velho embate entre solidariedade e necessidade. Entre consciencia de classe e individualismo. Acompanhamos sua via-crucis, as reacoes que sua presence provoca nas casas. Ela vem de sair de uma depressao, se entope de medicamentos. O marido a apoia, mas entre eles o momento tambem eh delicado, Nao fazem sexo hah quatro meses. No final, a solucao eh precaria – cria-se outro problema moral, talvez uma outra enquete como a que ela faz. Peguei uma bronca com os Dardenne quando fui jurado deles na Camera d`Or. Sua insensibilidade – incompreensao – do cinema latino-Americano me irritou muito. Mas meu amor pelo cinema, pelos bons filmes, eh maior que isso. Desconfiem de quem disser que nao gosta de Dois Dias, Uma Noite.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.