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Uma geléia geral a partir do cinema

Daniel Clamp, e a caricatura saltou da tela, tornou-se real!

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Em 1984, Joe Dante fez um filme que se tornou cult, mostrando como um animalzinho doce, um tal de Gizmo, um mogwai, pode dar origem, quando certas regras não são seguidas, a um bando de monstrinhos degenerados, os gremlins. Durante uma noite selvagem, os gremlins promovem a destruição da pequena cidade e o diretor Dante aproveita para subverter o espírito natalino à Frank Capra - A Felicidade não se Compra -, criando um verdadeiro inferno de horror e humor. Algumas cenas tornaram-se antológicas - mamãe defendendo sua casa e torrando o gremlin no microondas, os monstrinhos no cinema, assistindo a Branca de Neve e os Sete Anões etc. Muita gente discute se o filme é infantil, infanto-juvenil ou se é melhor mantê-lo longe das crianças por sua selvageria desenfreada. A questão é que, seis anos depois, em 1990, Joe Dante filmou uma nova geração em Gremlins 2 e o filme não se passava mais numa cidadezinha interiorana romântica, mas em Nova York, num torre em que o casal de protagonistas, Billy e Kate, Zack Galligan e Phoebe Cates, está trabalhando. Os gremlins ficaram no passado - passado? Na verdade, Gizmo escapou do cativeiro e foi levado para a torre por cientista, que pretende dissecá-lo. Billy e Kate descobrem, tentam recuperar o mogwai e, no processo, a regra básica é transgredida (não molhar a criaturinha), e Gizmo se multiplica na nova geração de gremlins. Em 1990, a Trump Tower ainda era um acréscimo recente à paisagem de Manhattan e Donald Trump um bilionário conhecido por suas excentricidades e mulheres piranhas, como a loira platinada Ivana. A sacada de Joe Dante foi fazer do dono de sua torre uma caricatura de Trump. Daniel Clamp, interpretado por John Glover, é um mentiroso profissional que manipula a mídia descaradamente, e esse era o menor de seus defeitos. Há 26 anos, era engraçado e a gente podia morrer de rir no escurinho do cinema, na certeza de que Billy, Kate e Gizmo haveriam de resolver o problema e salvar Manhattan (e o mundo) dos gremlins. Passado todo esse tempo, a caricatura tornou-se real, Donald Trump elegeu-se presidente dos EUA (nesta madrugada) e uma nova era está começando. Começando? Rise of the right. Isso vem de longe, desde 'Ron' Reagan e da Dama de Ferro, pelo menos. E não adianta Trump negar o apoio da Ku Klux Klan. Seu discurso paras devolver a grandeza à América está baseado no conceito das supremacia branca, e por isso mesmo ele virou o preferido da América profunda. O maluco é que sua oponente, como Barack Obama, era mais confiável para Wall Street. Pessoalmente, com todas as incertezas representadas por ela, preferiria ver Hillary ocupar o endereço famoso, agora como big boss, e com 'Bill' a tiracolo. Mais do mesmo? Pode ser, masa pelo menos já sabíamos onde pisamos. Me deu vontade de rever Gremlins 2 para rir de Daniel Clamp. Não sei se os próximos quatro anos serão tão divertidos assim. A série 'o horror, o horror' não termina. Como gremlin, não precisa nem molhar para se multiplicar.

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