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Uma geléia geral a partir do cinema

Cults!

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Fui ontem rever Frances Ha com meu amigo Dib Carneiro. Gosto médio do filme, da forma mais do que dos personagens, porque os acho meio aborrecidos em suas indecisões e não tão divertidos quanto alguns elogios superlativos nos cartazes podem fazer crer. Mas, enfim, havia feito minha leitura do filme à luz do que conheço do diretor Noah Baumbach, e tenho de admitir que é bem pouco. Vi alguns de seus filmes, Mr. Jealousy, A Lula e a Baleia, mas nem sabia que é casado com a atriz e corroteirista Greta Gerwig.  O curioso é que meu editor, Ubiratan Brasil, havia desenhado a página com um 'quem é' e tive de entrar na rede em busca de informações. Descobri que é filho de um crítico de cinema e uma crítica de música, mas nenhuma indicação de que era companheiro de Greta, eu hein. Agora de manhã, fui procurar na página dela e terminei por confirmar a ligação. O Dib ajudou a dar um nó na minha cabeça porque havia lido, acho que na Folha, que o filme parecia um  episódio estendido de Girls, a série da HBO. Como de séries não entendo - não vejo, sorry -, fiquei boiando, mas é curioso como o filme estende obsessões de Baumbach em relação a rupturas, sentimento de posse etc. Fui por aí, e não por um possível link com Girls. Havia escrito alguma coisa do tipo 'a vidas como ela é', e ontem fiquei constrangido, por Frances, na cena do jantar, em que ela vai emitindo opiniões cada vez mais estapafúrdias e as pessoas começam a trocar olhares à mesa, do tipo 'quem, é essa louca?' O filme não é ruim, é coprodução brasileira e espero que a Vitrine, da Sílvia Cruz, faça um bom dinheiro para continuar distribuindo o cinema superindependente (de Fortaleza, de Minas, do Recife) do qual ela virou a madrinha no País. Chega de Frances Ha. Quero mais é falar de um pacote de lançamentos da Cult que recebi ontem no jornal. Um filme mítico de Joseph Losey, que nunca vi, o 'Galileu Galilei' do grande diretor; o maior filme de música do cinema, Crônica de Ana Madalena Bach, de Jean-Marie Straub (e Danielle Huillet), embora o elogio seja pequeno para um filme em que a trilha e o preto-e-branco levam a extremos a possibilidade de criação de contrastes psicológicos, sociais e até metafísicos, por meio da abordagem diferenciada (de outro ângulo) do artista Johan Sebastian; e um filme de gângsteres de Richard Fleischer que é o suprassumo do cinema de gênero, Um Sábado Violento, com Victor Mature, Ernest Borgnine, Lee Marvin. Sempre tive o filho de Max Fleischer na mais alta conta e, em Paris, naqueles cineminhas de arte/ensaio, tive o privilégio de revisar sua produção B, o que só fez reforçar minha admiração. A Cult bem poderia lançar The Narrow Margin, Rumo ao Inferno, de 1951, que é ainda melhor, e faria um favor a todos os cinéfilos se resgatasse o Anthony Mann da fase RKO, anterior aos westerns. Os thrillers Desesperado, Moeda Falsa, À Sombra da Guilhotina e Mercado Humano vão inclusive alimentar uma releitura dos grandes bangue-bangues com James Stewart. Vou ver o Losey - enfim! - e volto a todos esses filmes.

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