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Uma geléia geral a partir do cinema

Coreanos na Berlinale

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Cinéfilos de carteirinha devem ter assinalado a ausência de competidores coreanos na Berlinale. Não apenas coreanos - asiáticos, de maneira geral. Tivemos só o filme chinês, 'Forever Enthralled', de Chen Kaige, na competição. Os coreanos, este ano, concentraram-se no Forum, e eu pude recuperar alguma coisa no finalzinho, antes de voar para Paris. Foram quatro filmes da Coréia, mais um co-produzidio com os EUA, um índice bastante elevado e o curioso é que, desta vez, não foram filmes de gêneros, mas investigações sobre a família coreana, como em 'Members of the Family', de Baek Seung-bin, no qual a morte (suicídio) de um garoto desestabiliza uma família já um tanto disfuncional. 'The Day After', de Lee Suk-gyung, investiga a infelicidade individual numa sociedade que celebra a eficiência coletiva, por meio dessa mulher que queria ser autora de romances policiais, virou professora de literatura e, agora divorciada, reavalia sua vida num fim de semana em que serve como moderadora num workshop para novos escritores. Não coreano, o documentário 'The Korean Wedding Chest', de Ulrich Ottinger - o diretor é alemão -, trata do choque cultural entre tradição e modernidade em Seul e esse mesmo tema reaparece em outro filme asiático do Forum, "Deep in the Valley', do japonês Funashi Atsuhi, sobre Yanaka, o último distrito de Tóquio que ainda resistia às transformações operadas na magalópole, após a 2ª Guerra. Em Yanaka, o desaparecimento de um velho pagode simboliza a destruição da cultura japonesa tradicional, e é sobre isso que o diretor se questiona. 'The Korean Wedding Chest' bem poderia integrar a seleção do próximo É Tudo Verdade. Aliás, espero que Amir Labaki esteja trazendo 'Morceaux de Conversations avec Jean-Luc Godard' e ' o documentário de Terence Davies sobre Liverpool, 'Of Time and the City' - é isto, não? -, isso para não falar de um filme de cuja existência não sabia, mas que foi um choque para quem viu, agora em Berlim. Em 1959 - há 50 anos! -, o filme venezuelano 'Araya' (não me lembro o nome da diretora) dividiu com 'Hiroshima, Meu Amor' o prêmio da crítica no Festival de Cannes. A Berlinale fez agora o reagate desse clássico pouco conhecido do cinema latino-americano. José Carlos Avellar me cantou a bola no primeiro dia do festival, mas sempre havia um filme da competição no horário - ou alguma entrevista -, o que não me permitiu confirmar as qualidades de 'Araya'. Estamos, vocês e eu, nas mãos de Amir Labakim, ou de Leon Cakoff (na Mostra), ou de Ilda Santiago (no Festival do Rio). Não sei de vocês, mas eu quero 'Araya'!

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