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Uma geléia geral a partir do cinema

Como quien se desangra...

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Estou mortificado. Contava as horas, desde segunda, para assistir hoje ao 'Fausto' de Christopher Nolan, perdão, a 'Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge'. Tinha os textos de amanhã do 'Caderno 2', inclusive a entrevista com meu conterrâneo Carlos Gerbase, que repete a experiência de 'Três Efes' e lança seu novo filme, 'Menos Que Nada', nos cinemas, na TV (Canal Brasil) e na internet. O problema é que só falei hoje com Gerbase - às 9h30! -, cheguei esbaforido no Shopping JK Iguatemi para descobrir - 1) que o filme do Nolan tem quase três horas; e 2) que a sessão ia começar atrasada, quase 11 horas. Nem com banda de música eu conseguiria ver o filme, correr para minha casa e redigir o texto sobre o Gerbase para o fechamento do 'Caderno 2' (às 14h30). Vi hora e meia do filme e, 'como quien se desangra' - como dizia Ricardo Güiraldes de seu Dom Segundo Sombra -, deixei o cinema e peguei um táxi para Pinheiros, onde descobri que o Word do meu laptop estava travado, o que ainda me forçou a sair de casa para redigir o texto. O que vi do 'Batman' me deixou siderado e aquele diálogo do mordomo (Michael Caine), tentando romper o isolamento de Bruce Wayne (Christian Bale), é o que acredito que deva ser o cinema. Preciso ver o filme inteiro - agora só na terça -, mas confesso que fiquei com umas ideias. Havia sentado ao lado de Orlando Margarido e, na saída, comentei com ele que não sabia porque perdiam (ele e muitos coleguinhas) tempo com o Alexander Sokurov. Ele replicou - 'Para com isso' -,. mas a verdade é que começou a se formar na minha cabeça um raciocínio que não sei se o filme vai segurar, mas como Nolan é gênio aposto nele minhas fichas. Antônio Gonçalves Filho escreveu no 'Caderno 2' uma elegia a 'Fausto', tentando verbalizar a epifania que teve assistindo ao filme. Eu estava tendo a minha com o Nolan. Com todo respeito pelo Toninho, toda aquela erudição sobre Sokurov me deixou de mármore. Todas aquelas referências só reforçaram minha impressão de que o filme é o 'Arca Russa 2'. Muito obrigado, mas estou passando. Quando falo no 'Fausto' de Nolan é ao pé da letra. O jogo de projeções e de duplos no centro da sua trilogia sobre o Cavaleiro das Trevas - o movimento de câmera e as lentes que ele usou para criar aquela inversão do Batman e do Coringa no filme anterior - me levou a pensar em procedimentos óticos, sempre citados quando os especialistas dizem que Goethe talvez tenha sido o maior dos polímaros. Mas a verdade é que os escritos científicos de Goethe, suas teorias sobre a luz, sempre foram contestadas e refutadas , e Otto Maria Carpeaux chega a sugerir que o 'cientista', nele, constrange o escritor, esse sim, grande. Hoje, a questão do 'Fausto' estava tão flagrante que me bateu o insight de que Nolan talvez estivesse tentando jogar com isso quando fez uso das perspectivas - jogos óticos? - de Escher em 'A Origem'. Não me impressiono muito quando as pessoas vão ver um filme com pretensões a erudito e tiram dali, ou jogam ali, o que sabem sobre o assunto. É óbvio. Agora, no 'Batman'... Christopher Nolan é f...

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