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Uma geléia geral a partir do cinema

Cine PE (1)/A noite dos curtas

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

RECIFE - Cá estou em Pernambuco, onde começou ontem à noite o Cine PE. O festival começou massivo, de público, numa sala enorme e encolheu pelas circunstâncias do mercado e do patrocínio. Realiza-se agora numa sala de rua do Centro do Recife, o Cine São Luiz, que Walter Carvalho definiu como um cinema-catedral, e é. Na plateia e no mezanino, o São Luiz abriga quase mil espectadores. Não é pouca coisa. Estava lotado. Houve a homenagem a Jonas Bloch e a Calunga especial foi entregue por sua filha, Débora Bloch, que fez um discurso apaixonado sobre tudo o que aprendeu com o pai. Democracia, liberdade, ousadia artística. Da plateia veio a resposta. Gritos de que não vai haver golpe. A homenagem ocorreu no intervalo, por volta das 9 da noite. Houve a primeira parte, com dois curtas, um na mostra pernambucana e outro concorrendo na nacional. E, na segunda, o primeiro longa da competição. Confesso que gostei mais da primeira parte. Os curtas ficaram comigo, embora tenha ficado um pouco decepcionado com o de Walter. Gostei muito de seu documentário, exibido no É Tudo Verdade, sobre o poeta Armando Freitas Filho, e o curta sobre Paulo Bruscky começou me desconcertando. Um filme sobre um artista visual que fala compulsivamente, que reflete sobre a arte, mas eu não via o trabalho dele. Só que o trabalho está lá no quadro - o auto(alto)retrato, a performance da pintura. O filme ficou comigo e agora eu não paro de pensar, o que deve ser o sonho do criador ouvir isso. Gostei também do curta pernambucano Não Tem Só Mandacaru, de Tauana Uchôa, que fala de poesia e poetas num lugar que eu nem sabia que existia, São José do Egito. Adorei a poesia de um autor centenário que também não conhecia, Louro, mas o que dá a medida do filme é a juventude. Encantei-me com aqueles garotos e garotas, todos embriagados de poesia. Tenho a impressão de que o filme poderia duras horas e eu ia continuar ligado neles. E veio o longa, Por Trás do Céu, de Caio Sóh. Com todas as diferenças que possam ter esses filmes, o de Caio se inscreve na mesma representação do sertão de obras como Boi Neon, A Luneta do Tempo e Reza a Lenda. Um sertão permeado de referências, muito mais imaginário (e imaginado) que realista. Achei, sinto dizer, o menos interessante de todos. Muito circo para pouco espetáculo - será que Renato Hemsdorff vai se estressar por eu me apropriar da definição dele? O esforço é evidente - está na prosódia, no visual, até na interpretação, por irregular que seja. Mas o filme me exauriu sem me dar muito em troca. No fundo, a história e os personagens são simples, e o desfecho também, mas o diretor põe tantas camadas... Ufa! O importante é que o festival começou. Estou aqui tossindo e o choque térmico (calor na rua, ar condicionado a mil em todos os ambientes) não me ajuda. Espero não piorar porque, afinal, praticamente o Recife com Cannes

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