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Uma geléia geral a partir do cinema

Cartas de Iwo Jima

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Acabo de assistir a Cartas de Iwo Jima e não posso dizer que estou decepcionado, porque não é isso. Amigos que já haviam assistido à outra metade (ou visão) de A Conquista da Honra, leitores aqui mesmo no blog, quando disse que havia gostado muito do filme que estreou hoje, foram uinânimes - espera para ver Cartas de Iwo Jima. É muito melhor, asseguravam. Quero dizer que não concordo, embora esse primeiro post sobre o assunto seja só para definir uma posição. Terei de voltar a ele, com mais profundidade. A Conquista da Honra e Cartas são muito diferentes, e não apenas porque um expressa a visão americana e outro, a japonesa da batalha de Iwo Jima.A diferença maior, para mim, é que A Conquista é um filme crítico da engrenagem militar, da necessidade que as nações têm de criar heróis e da fragilidade de pessoas que sabem que não estão à altura daquilo que está sendo exigido delas. É um filme de uma tristeza dolorosa. Vi-o pela primeira vez em Nova York e não tenho vergonha de dizer que, numa sala cheia de americanos, eu, um brasileiro, fui o único que ficou preso à poltrona, no fim, tão emocionado que até chorei. Eles me olhjavam que se eu fosse de Marte. Cartas é fúnebre. Começa com um cara que escava um buraco e diz que pode estar cavando sua sepultura. Termina para baixo, pois durante todo o tempo seu tema é a morte. Pode-se dizer que Clint está criticando o fim de um mundo (a derrota do Japão na 2ª Guerra confrontou o país com a realidade de que seu imperador não era um deus, como Sokhurov mostra no maior de seus filmes, Sol), mas Cartas não me provocou a empatia do outro filme. Será o tal colonialismo cultural, meu Deus? Na verdade, penso que a estrutura dramática de Cartas recorre a certas repetições (o soldado que poupa o cachorro que depois é morto por seu superior. Ele também parece que vai sobreviver, mas é morto à queima-roupa. Existem várias histórias assim)que me pareceram meio fáceis. Mas é um filme importante. Em plena Guerra do Iraque, Clint, depoiis de discutir o heroísmo, porque seus personagens são humanos demais, agora humaniza o inimigo. Não há uma demonização do outro, mas compreensão do seu sofrimento, da sua integridade, da sua honra, por mais que o militarismo suicida do Japão seja condenado. Insisto - Cartas é muito forte. Tem momentos de cortar o fôlego. Mas eu preferi A Conquista da Honra, que me tocou muito mais.

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