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Uma geléia geral a partir do cinema

Carrego comigo

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

O festival do Rio 2006 anuncia hoje à noite os premiados da Première Brasil. Nelson Pereira dos Santos preside o júri. Não falei com ele. Tenho visto Nelson à distância, muito aplicado, sempre vendo filmes. Está sendo uma grande Première Brasil, a melhor que eu me lembre, embora a do ano passado tenha exibido Cinema, Aspirinas e Urubus, Cidade Baixa, Tapete Vermelho e até filmes dos quais não gosto, mas respeito (acredite quem quiser) - como o do Beto Brant, Crime Delicado. Mas a Première de 2006 está um espetáculo, uma supervitrine do que será o cinema brasileiro em 2007. Como sempre se espera da gente que antecipe premiações, vou arriscar alguns palpites. Acho Cartola, do Lírio Ferreira e do Hilton Lacerda, o melhor documentário. O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger, é a ficção mais redonda (e um belo filme), mas eu acho que o júri vai ter trabalho porque, se resolver investir numa linha mais humanista, dispõe de O Céu de Suely, de Karin Aïnouz, e Proibido Proibir, do Jorge Durán; se quiser botar pra quebrar, investindo na transgressão, temática e formal,Heitor Dhalia pode levar, com O Cheiro do Ralo. Mas, agora, quero fazer uma confissão. A cena que eu carrego comigo, a que eu mais me lembro neste festival, não é de nenhum desses filmes. É de Noel, o Poeta da Vila, de Ricardo Van Steen. Noel, na fase terminal, passa de carro pelo bar onde se reunia com os amigos sambistas. Há uma troca de olhares entre ele e Araci de Almeida. Araca, mais bonita do que deve ter sido na realidade, mas talvez me engane, acompanha o movimento do carro, caminhando dentro do bar e sempre de olho no carro, de olho em Noel, como quem se despede. Uma cena dessas não é narrativa, mas me deixa louco. É o tudo ou nada. O diretor construiu, aparentemente, um nada. Você pode construir um mundo, tudo, no seu imaginário. Cinema é isso. O diretor cria, a gente recria, constrói outro filme, o nosso, que às vezes pode até ser diferente do que ele imaginava. Neste sentido, a Première Brasil de 2006 foi rica em cenas estimulantes. O Brasil pulsou na tela dos cines Odeon e Palácio, que sediaram a mostra.

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