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Uma geléia geral a partir do cinema

Brasil na cabeça

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Vários dias sem postar. Fui ao Rio, paravisitar o set de Os Penetras 2, que na verdade se chama Os Penetras - Quem Dá Mais? Era uma noturna, na quinta-feira. Entrevistei Andrucha Waddington, Marcelo Adnet. Andrucha me falou do seu plantão médico, Sob Pressão, que rodou no fim do ano, e do terror que pretende fazer no ano que vem, com roteiro de Fernanda Torres, Juízo Final. A todas essas, finaliza o Penetras, paras estrear em novembro - no dia 2, dos Mortos - e vai fazer, como diretor contratado, um filme sobre Chacrinha, mas não é a versão do musical que montou no teatro, e bem, com Stepan Nercessian. Poucos diretores brasileiros andam tão ativos. É bacana ver a energia de um set. Andrucha filmava naquele restaurante chinês da Av. Altântica, em Copacabana, posto 4, que já foi locação no 1. Acompanhava o diálogo com fone de ouvido. Achei engraçado, e o Eduardo Sterblitch, contracenando ora com Adnet ora com Augusto Madeira, é ótimo. Andrucha comparou-o a Peter Sellers, e entendi o que queria dizer. Como o Inspetor Clouseau, Chance (Muito Além do Jardim) ou Hrundi Bakshi (Um Convidado bem Trapalhão), Sellers desestabiliza o mundo sem perder a inocência do menino que parece não ter consciência de nada do que faz, ou provoca. Eduardo vai por aí. Viajei na quinta. Na quarta à noite, jantei com amigos na Paulista e aproveitei e fui à banca do Conjunto Nacional. Comprei os novos números das revistas Film Comment, editada pela Film Society do Lincoln Center, de Nova York, e a Cinemascope, como sempre, 'expanding the frame on international cinema'. Film Comment publica uns quadros bem legais. The Last Ten Films I've Seen, os últimos dez filmes que vi. Jia Zgang-ke responde e o primeiro é Boi Neon, de Gabriel Mascaro, seguido, entre outros, pelo Clã, de Pablo Trapero, e por Our Little Sister, a irmã mais jovem de Hirokazu Kore-eda, que acaba de estrear na cidade e é maravilhoso. A revista lista seus 20 melhores filmes do ano. Carol, de Todd Haynes, vem na cabeça, seguido de O Assassino, de Hou Hsiao-hsien, e Mad Max - Estrada da Fúria, de George Miller. Pessoalmente, prefiro o 2 e o 3. Spotlight - Segredos Revelados, de Tom McCarthy, ocupa o sétimo lugar, O Filho de Saul, de Laszlo Nemes, o 14º, e Jauja, de Lisandro Alonso, o 16º. Um texto investigativo sobre a animação em 2015, From the Artisanal to the Industrial, situa muito bem Boy and the World, O Menino e o Mundo, de Alê Abreu. De volta a Gabriel Mascaro e a Boi Neon, o poderoso ganha cinco (cinco!) páginas de entrevista em Cinemascope, hoje a publicação, entre as que conheço, que, em todo o mundo, mais põe o foco na estética e na política. O texto chama-se justamente Body Politic, Política do Corpo, e faz conexões muito interessantes entre a obra de Mascaro, incluindo Ventos de Agosto, Winds of August, com o universo dos vaqueiros de Nicholas Ray (Paixão de Bravo/Lusty Men) e Sam Peckinpah (Dez Segundos de Perigo/Junior Bonner). Acho bem legal que gente preocupada em pensar o cinema a nível global esteja antenada com as novas tendências do cinema brasileiro. Em Paris, na volta de Berlim, também comprei dois números da Transfuge, que encontrei nas bancas. É hoje a melhor revista de cultura da França - acho. Cinema e literatura, mais até a literatura, ocupam o centro das discussões. Transfuge, em janeiro, também fez sua lista dos top ten. Paul Thomas Anderson (Vício Inerente) ocupou a cabeça, seguido de Arnaud Desplechin (Três Lembranças da Minha Juventude). Anna Muylaert ficou em sétimo na escolha da redação com Une Seconde Mère, Que Horas Ela Volta?, antes de O Filho de Saul, de Laszlo Nemes, mas pelo menos um crítico (Sidy Sakho) colocou o Que Horas...? como melhor filme do ano, e em Paris, capital da cinefilia! Só para juntar mais as coisas - Transfuge lista em quarto Cemetery of Splendour, de Apichatpong Weerasethakul, e de volta à entrevista de Gabriel Mascaro em Cinemascope a revista destaca a importância da colaboração do brasileiro com o fotógrafo mexicano de 'Uncle Joe', Diego García. Os novos cinemas dialogam e se (retro)alimentam.

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