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Uma geléia geral a partir do cinema

Boazinha?

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Lembram-se de Kim Carnes, que cantava 'Bette Davis eyes'? Os olhos de Bette Davis... Eles eram meio saltados e contribuíam para que ela fugisse aos padrões convencionais de 'beleza' celebrados por Hollywood. Havia neles aquele fogo que a consumia internamente, vorazmente. Sempre tive um carinho especial pela Bette Davis 'decadente' dos anos 60, que publicou um anúncio num jornal pedindo emprego e Robert Aldrich relançou o mito ao fazer, com Joan Crawford e ela, 'O Que Terá Acontecido a Baby Jane?'. Bette fez, a partir daí, um monte de filmes que exploravam, mais do que nunca, a imagem da malvada. O próprio Aldrich dirigiu-a de novo em 'Hush-Hush Sweet Charlotte' (Com a Maldade na Alma), no qual a malvada era Olivia De Havilland, e ela fez na Hammer um pequeno filme que, se a memória não me falha, era do cara...co, 'The Nanny' (Nas Garras do Ódio), de Seth Holt, no papel da governanta dedicada de um jovem perturbado. E pensar que Bette havia iniciado a década fazendo a personagem mais 'boazinha' de sua carreira, em 'Dama por Um Dia' (A Pocketfull of Miracles), de Frank Capra, também com Glenn Ford. Seu último grande filme, eu acho, foi 'Lo Scopone Scientífico' (Semeando a Ilusão), que ela fez na Itália, com direção de Luigi Comencini, no começo dos anos 70. Bette era a velha megera obecada por jogo, que humilhava o casal formado por Silvana Mangano e Alberto Sordi, o que provocava a reação mortal do filho da dupla, uma criança cujo olhar externava todo o desencanto do grande diretor pelo mundo dos adultos. Não resisto a encerrar o post lembrando que Bette saiu de cena honrando a fama de 'malvada'. Ela deserdou sua única filha, que escreveu um livro dizendo que havia sido uma mãe tirana. Sob a alegação de que a filha já havia ganhado direito às suas custas, Bette fez um testamento irrevogável doando sua fortuna à secretária e ao filho adotivo, cada um recebendo 50% de seus bens. Isso é que eu chamo sair de cena com estilo.

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