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Uma geléia geral a partir do cinema

Berlinale! (14)

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

BERLIM - Escrevi o post anterior pensando se ia acrescentar mais esse. Afinal, são quase 2 horas (da madrugada) na Alemanha e eu vou levantar às 7. Mas não resisto. 50 Tons de Cinza deveria ter sido o tititi da Berlinale nesta quarta-feira, mas outro filme deixou os cinéfilos muito mais ouriçados. Peter Greenaway tem feito filmes sobre pintura, e pintores. Agora filma um cineasta, Eisenstein in Guanajuato. No começo dos anos 1930, autor de um filme instantaneamente considerado obra-prima - O Encouraçado Potemkin -, Sergei M. Eisenstein tentou fazer um filme nos EUA. O projeto não deu certo e ele foi ao México. Filmou centenas de quilômetros de filme, mas Que Viva México! nunca foi concluído - por ele, pelo menos. Surgiram versões espúrias que dão uma pálida ideia do que o filme poderia ter sido. Greenaway interessa-se menos por Eisenstein, o criador, que por Eisenstein, o homem. Acompanhamos seu esforço para criar, as brigas com os produtores norte-americanos (o escritor Upton Sinclair e sua mulher), mas o tema de Greenaway é outro. Onze entre dez biógrafos de Eisenstein dão conta de que ele era homossexual reprimido e sublimava no trabalho a sexualidade que mantinha trancada no armário. Greenaway filma em Guanajuato o momento em que Eisenstein sai do armário. Ele encontra um colaborador, Filomeno Duraño, que vai tendo progressivo acesso a seu corpo. Ficam nus, banham-se juntos, deitam-se na mesma cama na hora da siesta. Conversam e Duraño vence as barreiras do russo. Assim como Marlon Brando usava a manteiga como lubrificante sexual para penetrar o ânus de Marie Schneider em Último Tango em Paris, Cañedo usa azeite para penetrar Eisenstein. As cenas são gráficas - nu frontal, ereção, penetração, masturbação. Até agora estou tentando entender o que vi. Quer dizer, entender foi fácil, estou processando a dessacralização do mito. De qualquer maneira, não tive a reação irada de muitos colegas que passaram a achar Guanajuato o pior filme do festival. Não é mesmo. Pior que o Werner Herzog, Rainha do Deserto, não tem. Esses colegas prendem-se a detalhes. Podem muito bem estar certos, existem erros de datas que até eu posso assinalar. Mas tenho certeza de que o que chocou foi aquele Eisenstein de quatro e que depois passa o resto do filme, como se diz no Sul, se fresqueando com o namorado mexicano, que, aliás, é casado e tem uma penca de filhos. Se Peter Greenaway queria provocar escândalo, conseguiu. A cinefilia está em pé de guerra. Perto do (homos)sexo de Guanajuato, os tais tons de cinza não estão com nada aqui na Berlinale.

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