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Uma geléia geral a partir do cinema

Au revoir, M. Berri!

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Saí ontem do jornal à tarde para ver 'Austrália' e não regressei. Só hoje soube da morte de Claude Berri. Ele foi um dos mais importantes produtores da França, com um currículo em que se alternam projetos comerciais e filmes de autor como a esplêndida 'Rainha Margot' de Patrice Chéreau, de cuja trilha (genial) Gabriel Vilela utiliza fragmentos em sua montagem de 'Calígula', com o poderoso Thiago Lacerda, que já voltou ao cartaz (no Sesc Pinheiros). Berri também produziu 'O Urso', de Jean-Jacques Annaud, que é um dos mais belos filmes já feitos sobre animais. Mas Berri foi também diretor e, no começo de sua carreira, entusiasmou François Truffaut com o autobiográfico 'Le Vieil Homme et l'Enfant', com Michel Simon como o velho anti-semita que toma sob sua guarda um menino judeu durante a 2ª Grande Guerra. Até onde me lembro, era realmente um belo filme. Berri continuou fazendo um cinema autobiográfico, mas os críticos meio que se desinteressaram de seu itinerário. Quando o diretor parecia perdido, Marcel Pagnol deu-lhe uma sobrevida e 'Jean de Florette' e 'Manon des Sources' fizeram merecido sucesso. Claro que os grandes atores ajudavam - Montand, Depardieu e Daniel Auteuil. Não me seduziu o hiper-realismo acadêmico, o que talvez seja uma contradição em termos, de 'Germinal' e olhem que rezo no altar de Zola, como no de Balzac e Stendhal. Mas 'Uranus' também era bom e até provocsador em seu não-conformismo, por certo uma herança do escritor Marcel Aymé. Berri morreu às vésperas dos Encontros do Cinema Francês, que começam na quinta-feira, em Paris. Há alguns anos, em outra série de 'Encontros', havia entrevistado outro mega-produtor francês, Daniel Toscan du Plantier, o homem das óperas filmadas, que morreu em seguida, durante um Festival de Berlim. Plantier me disse que planejava uma nova versão de 'A Flauta Mágica', para crianças, dirigida por Coline Serreau. Até onde sei, o projeto nunca se concretizou. Que coisa! Estão se indo os mega-produtores da França. Plantier e Berri eram franceses até à medula e, mesmo quando faziam seus filmes gigantescos, não eram Luc Besson, tentando refazer, à européia, o cinema de ação de Hollywood. Tenho de admitir que lhe devo, lhes devo, muitos bons momentos no cinema. Hélas!

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