Tatsuya Nakadai era muito jovem - tinha 22 anos - quando apareceu num pequeno papel em Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa. Conta a lenda que o próprio Imperador teve de ensinar o garoto a andar como um samurai. Kurosawa deve ter visto imediatamente que havia algo especial em Nakadai. Colocou-o, anos depois, como oponente de Toshiro Mifune em Yojimbo e Sanjuro - que revi agora, em Paris - e o próprio 'Lobo' (Mifune) ensinou Nakadai a usar o sabre. Depois, quando o Imperador e o Lobo romperam, Nakadai virou o ator fetiche de Kurosawa - em Kagemusha e Ran. Paralelamente, Nakadai construiu uma carreira extraordinária como ator preferido de Masaki Kobayashi e Eizo Sugawa. Foi Kaji na trilogia Guerra e Humanidade, lançada nos EUA como The Human Condition, A Condição Humana. A saga de um pacifista na guerra, narrada em três episódios com duração média de três horas cada (no total, são quase dez horas de filme). Não Há Maior Amor, O Caminho da Eternidade e A Prece de Um Soldado. Kobayashi inspirou-se em suas experiência na guerra da Manchúria e nas perseguições que sofreu como simpatizante comunista, ao se opor ao tratamento brutal que o Exército japonês impunha aos prisioneiros de guerra. Na sequência, Kobayashi e Nakadai - em língua inglesa, o nome dele é grafado como Tetsuyo - fizeram Harakiri e Rebelião, para mim, o maior filme japonês de todos os tempos. E com Sugawa, Nakadai fez Morte à Fera e Arma Fatídica. Todos grandes filmes, mas a especialista Imogen Sara Smith sustenta que o maior deles é The Sword of Doom, de Kihachi Okamoto, de 1966. É esse grande ator, um mito, que as revistas Film Comment e Sight & Sound celebram nas suas edições de janeiro (e fevereiro). A Versátil bem poderia resgatar Guerra e Humanidade, e a Mostra tentar trazer Nakadai ao Brasil, enquanto ainda está vivo.