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Uma geléia geral a partir do cinema

Impressionante!

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Tenho de agradecer à Kênia, da assessoria da Imovision, por insistir comigo para que visse Eu, Anna. A Kênia chegou até a fazer uma sessão do filme só para mim na sexta-feira pela manhã. Imagino que alguém vá levantar uma questão ética - a sessão exclusiva -, ou até tergiversar. A Kênia estava só fazendo sua função, vendendo o peixe do filme da distribuidora para a qual trabalha, mas, nesta quadra da minha vida, já consigo discernir o que me vendem, e como. Eu, Anna integrou a seleção especial de Berlim no ano passado. Não sei por que não o vi. Gostei demais. O diretor Barnaby Southcombe é filho de Charlotte Rampling, que faz a personagem-título, e enteado de Jean-Michel Jarre, que faz um pequeno papel. Talvez o parentesco ilustre tenha ajudado para que ele tivesse outra pequena, mas ilustre participação - a de Honor Blackman, a bondgirl de 007 Contra Goldfinger. Lembram-se de Pussy Galore? Era a própria. Havia visto o trailer de I, Anna sem muito entusiasmo. Um policial, Gabriel Byrne, investiga a morte de um sujeito que frequentava um clube de solteiro. O cara é morto, inicia-se a investigação e o trailer já nos induzia a aceitar que Charlotte era a assassina. Cheguei a pensar em Sea of Grass, Vítimas de Uma Paixão, de Harold Becker, com Al Pacino e Ellen Barkin, mas devia ter desconfiado de que, se o filme esteve na Berlinale, algum motivo haveria de ter.  A coisa é muito mais complexa, o furo mais embaixo. Eu, Anna viaja pelas mentes enfermas e leva a gente a um desfecho assombroso, no sentido de que tem um dos grandes gritos de angústia captadols por uma câmera. Lembram-se de Peter Lorre em M, de Fritz Lang? De Tippi Hedren em Marnie, de Alfred Hitchcock? É desse calibre, e gente - Charlotte Rampling é o máximo. Entrevistei-a algumas vezes, três ou quatro delas no Rio e, na primeira, indisposta, Charlotte  respondeu mecanicamente sobre a minha curiosidade por seus papeis em filmes de Luchino Visconti e Liliana Cavani. Nunca vi nada parecido. Ela deve ter percebido minha decepção e, no dia, seguinte, pediu à assessoria do festival que me chamasse para nova entrevista. Foi um daqueles momentos quer senti que fizeram a diferença em minha vida. Senti-me iluminado. Há tempos não via Charlotte tão intensa. Ela envelheceu muito bem, é ainda muito bonita, mas o talento... Foi preciso agora o filho dar à mãe um papel tão especial. Eu, Anna estreia na semana que vem. Espero que vocês gostem tanto quanto eu.

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