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Crítica e crônica

Sim, o jornalismo ainda vale a pena

Foi assim que acordei, com a notícia que Murilo Cavalcanti, secretário de segurança urbana do Recife, me mandava por WhatsApp. "Você não sabe como seu artigo nos tem ajudado." Uma notícia que dei no meu blog há um mês. R$ 20 milhões do Governo Federal - já sinalizados e, segundo Murilo, apressados depois da matéria - para a construção de mais três unidades do Compaz, algo inspirado também na experiência Medellín, que fui lá ver para contar. Uma história de gente saindo da criminalidade graças ao dinheiro público investido em Cultura, Esporte e Educação. Meninos jurados para o tráfico desde o nascimento, com irmãos presos ou mortos, descobrindo o judô, a música, a gastronomia e, sobretudo, os livros em uma biblioteca dos sonhos, com direito a estúdio de TV para que eles mesmos façam seus programas. Gestores culturais encontrados na própria comunidade capazes de falar a língua dos jovens mais impenetráveis. Um grande complexo instalado no meio de uma região conhecida como Linha do Tiro, onde antes garotos se refugiavam para consumir drogas, ladeado por três comunidades com altos índices de homicídio. Enquanto Recife viu a violência crescer 19% em 2018, a região do Compaz reduziu isso em 20%. A liberação dos R$ 20 milhões estatais depois de uma certa comoção com um texto que, propositalmente e, como esse, não cita sequer um partido político, me faz pensar demais.

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Por Julio Maria
Atualização:

Capa do Jornal do Commercio, de Pernambuco, desta sexta (14)  

1.) Nós, imprensa, precisamos parar de temer boas histórias geradas por iniciativas governamentais. Com medo de parecermos vendidos, partidários, de rabos preso, servidores de interesses alheios, ignoramos perigosamente ações que, sim, podem estar salvando vidas. Ao não mostrá-las, alimentamos o mais nefasto ciclo de emprego do dinheiro público. Se um político pensar que colocar R$ 28 milhões em um projeto social não lhe renderá visibilidade alguma, o que de fato acontece, ele fatalmente levará essa verba para outro lugar. Quando a publicamos, porém, damos um recado: "Cara, você está no caminho certo. Olha só como vale a pena." E, em uma camada um pouco mais profunda: "Estamos de olho."

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2) Nós, jornalistas, não podemos jogar a toalha de nossas convicções. E, às vezes, isso pode significar sermos firmes em nossos ímpetos dentro das próprias corporações às quais servimos. Subo todos os dias até o sexto andar pelo elevador do meu jornal pensando na quantidade de famílias mantidas pelas empresas de comunicação. Seguranças, contínuos, profissionais de RH, de publicidade, marketing, comercial, cozinheiros, recepcionistas, diretoria. Só não podemos nos esquecer de que há uma figura central que mantêm toda essa máquina funcionando chamada repórter.

3) Nós, seres humanos brasileiros, precisamos acreditar que, passada a carnificina de nervos pré-eleição, precisamos fazer o melhor para reconstruir um País. Que essa função não cabe apenas a um presidente ou a um grupo político e que sempre vamos nos decepcionar esperando pela transformação messiânica, externa, enquanto seguirmos nos mesmos vícios internos de não olharmos para o outro, para as crianças e - principalmente a nós, jornalistas - para o lado.

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