'Canjerê' tem um bom repertório, mas Luzia mostra fragilidade no acabamento do seu canto. Ela faz uma busca pela interpretação mais profunda e escolhe bem as letras que canta, mas não chega aos lugares aos quais deseja, ficando na ideia de um canto interno que não transborda, no meio de um caminho idealizado que não se torna real. A crença em si é importante mas também pode prejudicá-la, impedindo que ouça o resultado do que produz com uma honestidade impetuosa de quem se dispõe até mesmo a se desconstruir para renascer. Seu canto é uma sequência de frases e notas frouxas, sem sustentação, com métricas duras, deslocadas e deslizes de ritmo. E deixá-lo passar assim é, também, um pecado de produção.
Há força nas músicas de 'Canjerê' - o show foi feito também canções de seu primeiro álbum, de 2012. Sobre 'Canjerê', 'Sambinha' é um samba sentido no grave do surdo, dramático e forte. 'Preparação para a Morte', de Danilo Moraes e Paulo Cesar de Carvalho, seria o 'hit' em outros tempos. Ela traz uma ideia que começou a ser repisada, a do "quando chegar a morte, não sentirei mais nada, já terei morrido antes da tua chegada", desde que Gil fez, em outro contexto, 'Não Tenho Medo da Morte'. Há ainda, na sequência, 'Sorvete', de Caetano Veloso; 'Tempo é Ouro', de Paulo Neto e Zé Ed; 'O Gosto da Flor', de Bruno Capinam e Luisão Pereira; 'Iluminada', de Roberto Mendes e Jorge Portugal; 'No Coração da Mata', de Saulo Duarte; e 'Tiro de Festim', de Bapt e Ank. Afinação e ritmo não são requisitos para grandes cantoras em um país que tem Maria Bethânia, inquestionavelmente, como uma de suas maiores. Não são termos técnicos que fazem a emoção chegar, mas eles podem enfraquecer a mensagem e travar a emoção quando não se tem o brilho dos deuses que surge para atropelar todos os males.