Luiz Zanin Oricchio e eu estivemos em Santos há duas semanas para uma longa entrevista com o compositor Gilberto Mendes, que lançou há pouco "Viver Sua Música", misto de memórias, relatos de viagens e reflexões sobre música. O resultado da conversa você encontra aqui. Gilberto relembra lances da sua infância, comenta o trabalho das vanguardas, os rumos da música clássica. Para mim, no entanto, o que mais marcou foi a afirmação de que ele resolveu aceitar "a contradição do que sou". A música de Gilberto Mendes nos ensinou muito sobre os caminhos da arte no século 20, o equilíbrio entre tradição e invenção, planejamento e inspiração. Ao mesmo tempo em que se uniu a movimentos radicais de vanguarda, no entanto, ele jamais deixou de lado a ideia da criação como fruto do aprendizado sobre si mesmo e da crença naquilo que nos guia em nossas vidas. É isso que faz da classificação de sua obra algo tão complicado. Gilberto Mendes não se isolou perante os estímulos do mundo em que viveu. Mas o distanciamento que ele encontrou dentro de si mesmo é que permitiu a ele recriar com sua obra a realidade.