E aí me peguei pensando. O trabalho de Adriana Clis no concerto de ontem se somou à lembrança recente de dois recitais de canções que acompanhei em junho, em Campinas, com as sopranos Manuela Freua (Villa-Lobos e autores franceses, acompanhada da pianista Dana Radu) e Edna D'Oliveira (Villa-Lobos, com o violonista Sidney Molina). Nos três casos, é claro o envolvimento dos intérpretes com o repertório apresentado, que aponta na direção de um estudo específico direcionado às canções. Por que, então, não há um só espaço regular em nossas temporadas para as canções? Falo do lied, das melodies francesas, dos cancioneiros americano e russo - e do brasileiro, que está em pé de igualdade com o que de mais interessante se fez, e se faz, mundo afora. Por que associamos a voz apenas ao repertório operístico? Por que, quando se resolve fazer recitais, é sempre com artistas estrangeiros? A Estadualzinha decidir fazer as "Kindertotenlieder" é, de alguma forma, um tapa nas nossas orquestras profissionais que, em sua maioria, passam ao largo desse repertório (lembro apenas da Osesp, já há alguns anos, e da Sinfônica de Brasília, com ciclos de Mahler, como exceções). Há cantores, há público. E um teatro como o São Pedro, por exemplo, ou a Sala Promon, intimistas, seriam perfeitos para a criação de uma série regular dedicada a esse repertório.
Quando vai haver interesse dos nossos programadores?