Foto do(a) blog

Música clássica... E um pouco de tudo

Opinião|No Rio, com Mozart (2)

PUBLICIDADE

Foto do author João Luiz Sampaio
Atualização:

Com o Concerto nº 20 a Sinfonia nº 40 na cabeça, ontem fui para a Sala Cecília Meireles para ouvir, entre tantos outros concertos, a apresentação do Trio K. 564, com a pianista Fany Solter, o violinista Daniel Guedes e o violoncelista Fábio Presgrave. A peça não é das mais célebres ou preferidas de Mozart, mas é da mesma época que o concerto e a sinfonia, seus anos de agrura em Viena, enfrentando dificuldades financeiras e tentando agradar ao gosto do público local. São muitos os contrastes. De cara, fica difícil relembrar por meio da música o contexto enfrentadO pelo compositor. Mas o primeiro movimento se encerra em um clima mais sombrio; em seguida, uma melodia gentil, tema que passa por diversas variações, até que, na quinta delas, assume formas trágicas em sua simplicidade. São muitos os mundos sugeridos por Mozart. E ponto para os intérpretes que nos revelam a possibilidade de cada um deles - Fany Solter, brasileira radicada há décadas na Alemanha, dá lição de música de câmara ao lado de dois de nossos mais celebrados jovens solistas. Um grande recital. Na quinta, a Folle Journée ainda começava a ganhar ritmo - o maior número de concertos está previsto para hoje e amanhã. Mas algumas destaques já se desenham. A pianista francesa Anne Queffélec ofereceu leitura espontâneas das sonatas K. 330 e K. 331, esta última uma de suas mais célebres composições. A Orquestra Rio Folle Journée saiu-se bem também em seu segundo programa, com o concerto para clarinete com Roman Guyot, intérprete de musicalidade madura, e o concerto para violino nº 3, com solos do violino do tcheco Pavel Sporcl, que chama mais atenção pela cor azul do que pela interpretação, correta apenas. E a maratona está só começando.

Piadinha maldosa, entrouvida ontem à noite no Teatro João Caetano: Guyot não ofereceu nenhum bis depois do concerto para clarinete. Explicou que seu instrumento foi feito especialmente para tocar Mozart e não "aceita" a obra de nenhum compositor. "Ué, mas ele não conhece nenhuma outra peça do homem?"

Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.