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Opinião|Músicos da Osesp questionam concerto em desacordo com as normas de segurança contra o coronavírus

Artistas questionavam a apresentação dos balés 'Petrushka' e 'A Sagração da Primavera', de Stravinsky, em um mesmo programa; a agenda foi alterada.

Foto do author João Luiz Sampaio
Atualização:

A Associação de Profissionais da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Aposesp) enviou notificação extrajudicial ao diretor artístico Arthur Nestrovski pedindo mudanças na programação do grupo "em razão da não observância das normas contra COVID19". Após a manifestação dos artistas, que questionavam a apresentação dos balés Petrushka e A Sagração da Primavera, de Stravinsky, em um mesmo programa, a agenda foi alterada.

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Os balés de Stravinsky são os destaques da homenagem aos 50 anos de morte do compositor. Abririam a temporada da orquestra em março, mas as apresentações acabaram adiadas pelo recrudescimento da pandemia. Em meados de maio, as obras foram reprogramadas para os dias 24, 25 e 26 de junho, sob regência de Thierry Fischer.

As obras exigem a presença de um número grande de músicos no palco, além da quantidade prevista pelos protocolos de segurança sanitária. A sua programação já havia provocado dúvida na época do lançamento da temporada, no final do ano passado, tendo em vista os números da pandemia. Sobre isso, no início do ano, porém, Fischer afirmou em entrevista que elas seriam feitas com grupo reduzido.

Ainda assim, no dia 26 de maio, a Aposesp enviou a notificação à direção artística chamando atenção para o "acúmulo de peças de grande porte que pode colocar em risco a saúde dos integrantes da orquestra e seus convidados escalados para tal programa".

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Sala São Paulo ( Foto: Fundação Osesp)

O documento, obtido pelo Estado, afirma que "em duas oportunidades durante reuniões da direção com os músicos, a APOSESP alertou para que houvesse um bom senso na programação neste período de pandemia, utilizando-se sempre repertório de câmara e/ou repertório que utilize um número pequeno de integrantes, visando sempre proteger a vida de todos de uma possível infecção pelo vírus". "Contudo, a semana de trabalho SSP14/2021 extrapola todas as recomendações", diz o texto.

O programa exigiria a participação de 131 músicos, que não estariam o tempo todo juntos sobre o palco. Eles seriam divididos em dois grupos - cada um ficaria responsável pela apresentação de uma das peças. Cada grupo ensaiaria também em horários diferentes. "Mas isto não anula o fato de que todos os 131 (cento e trinta e um) músicos se encontrarão nos 3 (três) concertos programados, mais o ensaio geral, e que 6 (seis) desses músicos participarão de todos os ensaios, além de todo o staff de montadores, inspetor, produção e até mesmo o maestro titular terão contato com todos os músicos em serviço elevando o risco de contágio para um nível desnecessário."

Os artistas lembram ainda que o Protocolo Covid da Fundação Osesp prevê concertos de no máximo uma hora de duração, sem intervalos, e que a soma das duas obras somaria 1h7min, sem contar as entradas e saídas dos 131 músicos do palco, "gerando, portanto, uma aglomeração de músicos e demais profissionais." E questionam, em um momento no qual seus salários sofreram redução, o sentido de se manter uma programação que vai exigir a contratação de trinta músicos extras.

Procurada pelo Estado, a Fundação Osesp informou que resolveu mudar a programação: o concerto do dia 24 foi cancelado; no dia 25, será apresentado o balé Petrushka ao lado de uma sinfonia de Haydn; e, no dia 26, a Sagração, mais uma vez com uma peça de Haydn. "De fato houve uma impropriedade na programação entre os dias 21 e 26 de junho, pois as duas peças de Stravinsky, sendo tocadas por duas orquestras diferentes, jamais deveriam estar no mesmo dia de concerto", diz a direção executiva da fundação em nota oficial em resposta aos questionamentos da reportagem - o diretor artístico Arthur Nestrovski, diz o texto, está afastado no momento por questões de saúde.

Sobre a permanência na programação dos balés de Stravinsky, a fundação afirma que eles "foram programados originalmente como um dos eixos da programação de 2021, e, por respeito ao público e aos músicos, estamos fazendo um esforço contínuo de manter algumas das peças mais importantes da temporada".

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A contratação de músicos extras, diz a nota, não significará gastos extras não previstos. "Para a realização desse programa, a Osesp utilizará, além de seu próprio efetivo orquestral, 16 instrumentistas extras para que não haja a coincidência de músicos em grupos distintos e para preservação dos protocolos de segurança bem estabelecidos pela instituição. Essa contratação já estava prevista na revisão orçamentária".

 Foto: Estadão
Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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