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Opinião|Murmúrios de Pedro Páramo, do livro de Juan Rulfo para a ópera

Romance fundamental da literatura latino-americana já foi transformado em ópera - e o diretor responsável pela produção está no Brasil, onde dirige O Amor dos Três Reis, de Montemezzi, no Teatro São Pedro

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Atualização:

O escritor Juan Rulfo Foto: Estadão

Recentemente, enquanto lia o romance Pedro Páramo, de Juan Rulfo, me peguei pensando em como o texto daria excelente tema para uma ópera. O livro se passa em Comala, cidade feita de memórias, aparições, em que nunca se sabe ao certo o que é presente e o que é fantasia. São muitas as vozes narrativas - personagens que compartilham experiências pessoais, cruas e extremamente reais, em um ambiente, por sua vez, indefinido. A galeria de personagens é fascinante - como imagino pode ser fascinante a recriação musical de cada um deles...

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Enfim, no começo da semana descobri que já existe uma ópera baseada no livro. E o diretor responsável por sua estreia, em 2006, por coincidência, está no Brasil: trata-se do mexicano Sergio Vela, que dirige O Amor dos Três Reis, de Montemezzi, ópera com a qual o Teatro São Pedro abre no dia 18 sua temporada lírica. E, ao conversar com ele esta semana, não resisti a fugir do tema da entrevista e perguntar sobre Pedro Páramo.

Vela contou que este foi um dos maiores desafios de sua carreira. A ópera foi escrita pelo mexicano Juan Estrada e os herdeiros do escritor, descontentes com adaptações para outras mídias, não autorizaram o uso do nome do romance. Assim, a peça foi batizada de Murmullos del Páramo. O título presta-se bem à história, entremeada de aparições que confundem a relação espaço e tempo. "Nada é linear na história, não é fácil identificar o que é realidade, se é que ela existe, e o que é memória, passado, lembrança. E isso tornou a adaptação um grande desafio: como estabelecer uma narrativa que trafegasse tão livremente, como no livro, entre passado e presente?", diz Vela. "Foi uma enorme aventura. O espetáculo foi apresentado na Espanha, na Alemanha, no México e no Japão e, em cada cidade, era preciso fazer adaptações no palco. Isso para não falar nas dificuldades técnicas da partitura. Estrada trabalha muito o sentido experimental do som, a questão timbrística. Foi preciso contar com um grupo de cantores especializados em música contemporânea", conta.

Segundo Vela, há dois artistas - um mexicano e um alemão - trabalhando em uma nova versão para ópera do livro de Juan Rulfo. Ele os conheceu, mas não se lembra dos nomes (e eu não consegui achar alguma referência na internet). Enquanto isso, no documentário que posto aqui, dá para conhecer um pouco da obra de Estrada e do seu processo criativo, além de um ou outro trecho de Murmullos del Páramo. Ah, claro, falamos também de O Amor dos Três Reis, mas sobre isso eu escrevo depois no Caderno 2.

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e-mail: blogjoaoluizsampaio@gmail.com twitter.com/joaoluizsampaio

Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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