O maestro José Soares, de 23 anos, venceu no último final de semana o 19º Concurso Internacional de Regência de Tóquio. Ele bateu concorrentes de oito países: o segundo lugar ficou com o francês Samy Rachid e o terceiro, com o inglês Bertie Baigent.
Na prova final, Soares regeu a abertura de La Gazza Ladra, ópera de Rossini, e o balé Petrushka, de Stravinsky, à frente da New Japan Philharmonic. Além de ser escolhido pelo júri, presidido por Tadaaki Otaka, Soares também venceu o Prêmio do Público.
A vitória é mais um capítulo em uma carreira breve, mas auspiciosa. Soares estuda na Universidade de São Paulo e teve aulas de regência com Cláudio Cruz e Fabio Mechetti, de quem se tornou assistente na Filarmônica de Minas Gerais.
No ano passado, conversei com Mechetti a respeito de Soares. "Quando Marcos Arakaki resolveu deixar o grupo, comecei a procurar um novo nome. Convidei uma série de jovens regentes que participaram dos laboratórios para reger e gostei muito do trabalho do José. Havia a questão da pouca idade, mas conversei com Cláudio Cruz, que comentou sobre a maturidade dele. E o que aconteceu neste ano mostrou todas as qualidades em que a gente até então apostava", disse o maestro.
E o que aconteceu em 2020?
A pandemia fez com que a temporada prevista pela Filarmônica de Minas Gerais fosse substituída - com o agravante de que, nos Estados Unidos, Mechetti, diretor da orquestra e seu regente titular, não poderia vir ao Brasil.
Coube então a Soares assumir a orquestra em concertos com repertórios nada triviais, com destaque para as sinfonias nº 2, nº 4, nº 6, nº 7 e nº 8 de Beethoven. Com o detalhe de que as apresentações seriam transmitidas pela internet. Para o mundo todo ver. Um belo rabo de foguete, como o próprio maestro definiria.
A questão é que seu desempenho chamou a atenção tanto do público como de crítica, pela técnica e pela musicalidade. E pela cabeça no lugar.
"Poder fazer esses concertos e estabelecer uma relação com a orquestra é um exercício máximo de humildade. Eu sei que essa é uma oportunidade rara. E, para lidar com ela, é preciso ser humilde perante a magnitude dessas obras, além de, claro, estar bem preparado, no sentido técnico - e também humano. Para mim, o objetivo é desenvolver com os músicos uma relação o mais honesta possível", ele me disse em novembro do ano passado, quando escrevi um perfil seu para a Revista CONCERTO.
"Tenho paixão por compartilhar a visão de uma obra, a mensagem de um compositor. O maestro, neste sentido, deve facilitar o trabalho dos músicos e buscar expandir as possibilidades artística de uma comunidade." E tem mais. "Como jovem regente, você sabe que precisa primeiro aprender o grande repertório. Mas ele é enorme! E há uma questão também de vivência musical e artística. Mas entendo que minha função seja combater minha própria ignorância. Poder trabalhar no sentido de ampliar, expandir meu conhecimento."
O caminho de Soares está apenas começando.