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Música clássica... E um pouco de tudo

Opinião|Festival Baroque in Rio resgata repertório com grandes intérpretes

Com direção de Rosana Lanzelotte e Olivier Baumont, programação celebrou três décadas de parcerias entre artistas brasileiros e franceses

Foto do author João Luiz Sampaio
Atualização:

RIO - Foi daqueles momentos em que o tempo para, dando a sensação de que se pode viver nele indefinidamente: as árias de Lambert, Bataille e Boesset na voz delicada da soprano Jeanne Zaepfel, acompanhada pelo cravo de Olivier Baumont e o som redondo, quente, da viola da gamba de Christine Plubeau. O cenário também ajudava: o Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro.

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O tempo, na música barroca, é fundamental. Voltar à música dos séculos XVII e XVIII é retornar a outra época, a outra percepção de mundo - mas é também, no esforço de recriar a interpretação de época, encontrar o nosso tempo e o modo como compreende e relê o passado.

Foi também em torno do tempo que se estabeleceu a programação do Festival Baroque in Rio, apresentado ao longo do fim de semana no Rio de Janeiro. O evento celebrou trinta anos de parcerias entre artistas brasileiros e franceses na pesquisa e na interpretação da música antiga.

Muito aconteceu ao longo desse período. "Ganhamos muito em conhecimento e experiência", relembra a cravista Rosana Lanzelotte, que assinou a direção artística ao lado de Baumont. "O intercâmbio com a França extrapolou o Rio de Janeiro e tornou-se fundamental na formação de artistas e no estabelecimento de uma prática de performance", completa.

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Olivier Baumont, Jeanne Zaepffel e Christine Plubeau em concerto no Outeiro da Glória Foto: Estadão

A abertura do festival, na sexta-feira, teve um concerto dedicado ao cravo - e à obra de Bach. Foram apresentados na Sala Cecília Meireles dois concertos para dois cravos (o BWV 1061, com Lanzelotte e Marcelo Fagerlande; e o BWV 1060, com Baumont e Cristiano Gaudio). No acompanhamento, o Quarteto Fantástico, liderado por Felipe Prazeres, acompanhado pelo violinista Julien Chauvin, solistas no Concerto para dois violinos BWV 1043.

No sábado, o programa no Outeiro da Glória. E, no domingo, Chauvin, que é um dos grandes nomes de seu instrumento no cenário atual, mostrou-se também regente de excelência em um concerto no Teatro Municipal com a Orquestra da UniRio, fazendo a estreia moderna da Abertura 1819 de Neukomm e interpretando também a Abertura Zemira, de Padre José Maurício Nunes Garcia, e a Sinfonia Júpiter de Mozart.

Neukomm veio ao Brasil com o Duque de Luxemburgo, primeiro embaixador francês no Brasil (que em 1816 havia sido elevado à categoria de reino). Encontrou aqui José Maurício, de quem se aproximou - e, juntas, suas aberturas revelam fascinantes e profundamente originais releituras da tradição clássica, que Mozart tão bem sintetiza em sua sinfonia.

É um programa bem-acabado e inteligente - assim como o foi toda a programação do festival. Em três concertos, três mundos sonoros distintos, recriados por diferentes gerações de artistas que, quase três séculos depois, fizeram apresentações vivas, sofisticadas, repletas de energia. Feitiço do barroco. Coisas do tempo.

Rosana Lanzelotte, Marcelo Fagerlande, Olivier Baumont e Cristiano Gaudio em concerto na Sala Cecilia Meireles Foto: Estadão
Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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