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Opinião|Encontro vai reunir violistas em imersão no interior de São Paulo

Em meio à crise financeira e no investimento nas artes, músicos buscam financiamento coletivo em vez de apelar às leis de incentivo

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Foto do author João Luiz Sampaio
Atualização:

Parece verdade que os bons filhos à casa tornam. Quatro dos principais instrumentistas brasileiros, violistas, com carreiras que já os levaram a todo o mundo, resolveram criar um festival em sua cidade natal: Piracicaba. Surgiu assim, pelas mãos de Pedro Visockas, Gabriel Marin, Alexandre Razera e Renato Bandel, a proposta do I Encontro Campestre de Violas, marcado para janeiro de 2018.

O conceito, inspirado em eventos comuns fora do Brasil, trabalha com a ideia de imersão: durante uma semana, os alunos e os professores vão estar juntos em uma chácara, em meio à natureza, concentrados em aulas, palestras, saraus, e vão se apresentar na Capela Monte Alegre, decorada com afrescos de Alfredo Volpi.

 Foto: Estadão

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Para tanto, o evento está buscando financiamento coletivo. Com R$ 30 mil, poderão arcar com as despesas de aluguel, alimentação, pagamento para professores e pianista e aluguel e transporte de piano. Com R$ 40 mil, os alunos estarão isentos da inscrição e aulas de consciência corporal e pedagogia da performance serão acrescidas à grade. E, com R$ 50 mil, também será produzido um DVD do concerto de encerramento. (Para colaborar, basta acessar aqui o site do projeto).

Em entrevista, Marin e Visockas explicam a proposta do encontro - e falam das dificuldades que um músico enfrenta hoje para levantar um evento como esse:

Como surgiu a ideia do encontro dedicado à viola?

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Durante uma viagem a Campos do Jordão, para um concerto em que o Gabriel e eu tocamos, fomos conversando sobre a coincidência de 4 violistas destacados no Brasil serem de Piracicaba - Renato Bandel, Alexandre Razera, Gabriel Marin e eu. Comentei com ele que tinha vontade de um dia juntarmos os quatro para um concerto. Gabriel disse que já tinha pensado nisso e mais ainda, que queria realizar um festival, um encontro com os quatro como professores, inteiramente dedicado à viola.

O encontro trabalha com um conceito específico, uma proposta de convivência diferente daquela experimentada nos festivais tradicionais. Qual a ideia por trás deste conceito? O que vocês esperam ganhar com ele?

O encontro propõe que alunos e professores estejam num mesmo ambiente - um lugar afastado do centro, sem o ritmo intenso e frenético das cidades, longe de trânsito e agitações dos centros urbanos. Outro ponto diferente é o foco somente em um instrumento - a viola, o que consideramos um grande atrativo para os estudantes. Eles terão aulas diárias, cada dia com um professor, poderão assistir às aulas dos colegas, formar grupos de música de câmara, haverá palestras e conversas sobre o repertório, técnica, consciência corporal e claro, momentos de lazer. Desejamos que os alunos que participarem saiam do festival mais empolgados, com mais conhecimento sobre técnica e música e mais instigados e motivados a estudar e pesquisar seu instrumento.

O que os levou a utilizar o crowdfunding em vez das leis de incentivo? Qual a dificuldade que um músico enfrenta, hoje, para erguer um evento como esse?

O valor para viabilizar o evento é relativamente baixo, vamos oferecer aulas, estadia e alimentação aos alunos ao custo de R$ 30 mil. Está prevista uma quantia simbólica para inscrição, mas se ultrapassarmos a meta inicial da arrecadação, será possível isentar esse valor também. Chegamos ao formato ideal do encontro por volta do final do primeiro semestre de 2017 - com a ajuda da nossa colega, também violista, Roberta Marcinkowski, que está cuidando da organização e produção. Como o apoio governamental está minguado e a captação de recursos privados é uma tarefa um pouco árdua para os músicos, decidimos levantar os recursos para o encontro por meio de uma plataforma de financiamento coletivo. O orçamento para realizar o encontro não é alto e acreditamos que se nossos amigos, colegas e pessoas que se interessam em ajudar projetos culturais contribuírem com apenas um pouco, conseguiremos realizar o projeto. A grande dificuldade que músicos, artistas e educadores enfrentam é a completa falta de apoio e estímulo do governo. Os mecanismos para conseguir capital para realizar projetos educacionais e culturais são complexos e burocráticos, dificultando muito a vida dos músicos. Vemos os diversos cortes que as orquestras e escolas de música e artes vêm sofrendo ao longo dos últimos anos, mais claramente ao longo dos últimos dois anos, causando a extinção de grupos e demissão de músicos.

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Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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