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Música clássica... E um pouco de tudo

Opinião|Em Campos do Jordão

Maria e Antonio. A magia do encontro talvez esteja na sua eterna improbabilidade. Tempo e espaço se articulam ao sabor do acaso e, de repente, estão os dois sobre o palco, com Beethoven e Bach. O que cada um trouxe ao mundo, a gente encontra na partitura; o que cada um trouxe a esta música, a experiência nos relembra e ensina. Mas que tudo isso faça sentido no espaço de um recital é um mistério que convém não desvendar. O que importa afinal é a reinvenção do sabor do mundo, num jogo de gestos, sons, olhares. Em um mundo de cinismo, que a arte interrompa as palavras é um alento.

Foto do author João Luiz Sampaio
Atualização:

Despedida. Roberto Minczuk despediu-se ontem do Festival de Inverno de Campos do Jordão. Em forma de homenagem, recebeu os agradecimentos daqueles que agora comandam o festival, encerrando simbolicamente sua gestão à frente do evento. Há um senso de justiça, ainda que o ocaso traga sempre um sabor amargo. Mas se novos caminhos estão sendo trilhados, não se pode esquecer que portas foram abertas nos últimos anos, dando vida a um festival que já não encontrava personalidade. E, da mesma forma, que a programação, após uma semana, já esboça desafios e conquistas.

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Novo. Recitais e concertos, propondo diálogos entre épocas, estilos e gêneros, têm sido estimulantes. Mais do que certezas sobre o que há de novo na construção de sentidos musicais, o que se tem até agora são esboços de uma busca da contemporaneidade. O diálogo com o passado não é apenas negação ou reinvenção - e, em uma conversa, vale muito aquilo que não é dito. Acerta quem aceita que não cabem maniqueísmos na construção da arte, quem aposta nas entrelinhas da criação, na ânsia pelo novo - e nas contradições que ela encerra.

Espera. Daqui a pouco, Nelson Freire volta ao palco do Auditório Claudio Santoro. Brahms, Concerto nº 2. A expectativa devolve as melodias à cabeça. E a gente já sonha com mais mistérios e surpresas, ainda à luz do dia.

Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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