No dia seguinte, fiquei sabendo, em Belo Horizonte, que o Palácio das Artes, em uma iniciativa digna de elogios, vai produzir outra ópera de Villa, 'A Menina das Nuvens'. Mas fiquei pensando: e 'Yerma'? A única apresentação completa da ópera no Brasil foi em 1981 (há na internet uma gravação de qualidade técnica ruim deste concerto no Municipal do Rio, com regência de Mario Tavares). Pouco depois disso, apareceu em uma apresentação da série Vesperais Líricas, do Municipal de São Paulo, com o maestro Luís Gustavo Petri no piano. E, depois disso, nada. Não se trata apenas do resgaste histórico de montar uma ópera de nosso maior compositor - a música é boa, o texto também. Ao que parece, os materiais de orquestra, seja lá onde estiverem, não são muito claros. Pois o que estão esperando órgãos como a Funarte ou a própria Academia Brasileira de Música para levar adiante o projeto de edição da partitura? Lembrei também de um outro título da ópera nacional que, salvo engano, foi encenado apenas uma vez, no Municipal do Rio - 'Um Homem Só', de Camargo Guarnieri, com libreto de Gianfrancesco Guarnieri. Conheci o texto da ópera pelas mãos gentis de Cecilia Thompson, jornalista com quem convivi aqui na redação, que foi mulher de Gianfrancesco Guarnieri. Dêem uma olhada no que escreveu, na época da estreia, o crítico Eurico Nogueira França: "Tudo caminha aqui - a própria música - em termos de bom, moderno, vigoroso, avançado teatro. Chegamos a um conceito de ópera brasileira na qual as dimensões teatrais lhe conferem legitimidade irresistível". Em um momento em que compositores brasileiros têm se dedicado a escrever novas óperas, recuperar marcos passados do gênero é fundamental na criação de uma história da ópera brasileira. Uma história que passa, necessariamente, pelo resgate de 'Yerma' e 'Um Homem Só', além de tantos outros títulos que devem andar perdidos por arquivos do país. Estamos esperando o que exatamente?