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Música clássica... E um pouco de tudo

Opinião|Alguém se habilita?

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Atualização:

Vejam só: a Filarmônica de Nova York tem encontrado enormes dificuldades para encontrar um novo diretor executivo. Zarin Mehta está no posto desde 2000 - e já avisou que sai ao final desta temporada. Segundo o New York Times, seis candidatos já declinaram. Motivos não faltam. O novo diretor vai precisar lidar com questões como a construção de uma nova sala, um déficit na casa dos milhões de dólares e a dificuldade de atrair grandes patrocínios - afinal, a filarmônica compete com outras instituições importantes, como o Metropolitan Opera House e o Carnegie Hall, isso para ficar no alcance de apenas alguns quarteirões em midtown Manhattan. Mas há também um problema de ordem artística embutido nessa história toda. O fato é que, desde a saída de Kurt Masur, em meados dos anos 2000, nem mesmo a chegada de Lorin Maazel conseguiu dar repercussão internacional à orquestra. As temporadas trazem, em geral, mais do mesmo, o que é mortal quando se compete com a programação alternativa de Nova York, com a agenda do Carnegie Hall que, no espaço de poucos meses, leva à cidade grupos como as filarmônicas de Berlim e Viena, a Orquestra do Mariinsky, ou mesmo com outros conjuntos americanos, que, apesar da crise, têm conseguido manter uma aura de novidade e excelência artística, como Baltimore e Cleveland. Com a contratação de Alan Gilbert, cria da casa, o primeiro nativo de Nova York a assumir a orquestra, duas temporadas atrás, imaginava-se estabelecer uma nova relação com a cidade. Ainda que isso leve ao risco de fazer da filarmônica um fenômeno apenas local, o que preocupa mais é que Gilbert, até agora, tem decepcionado, com leituras que raramente ultrapassam o rotineiro. Tive a chance de ver, nas últimas duas temporadas, três concertos dele com a orquestra, em que a diversidade de repertório (dos clássicos aos contemporâneos) sucumbe perante interpretações burocráticas e pouco atentas a sutilezas e contrastes. Tudo soa igual, tecnicamente perfeito, mas pouquíssimo inspirado. Ao novo diretor executivo vai caber também a tarefa de renovar ou não seu contrato, que vence daqui a pouco mais de dois anos. Não parece mesmo dos empregos mais atraentes...Ao mesmo tempo, porém, pode-se também fazer o raciocínio inverso - deve, afinal, ser estimulante poder pensar em refazer a imagem de uma orquestra tão tradicional à luz de um novo mercado, em plena transformação.

Opinião por João Luiz Sampaio

É jornalista e crítico musical, autor de "Ópera à Brasileira", "Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção" e "Guiomar Novas do Brasil", entre outros livros; foi editor - assistente dos suplementos "Cultura" e "Sabático" e do "Caderno 2"

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