Esta segunda-feira, 14, marca os 20 anos em que o último episódio de Seinfeld foi ao ar.
Aclamada por críticos como uma experiência que mudou a produção de TV para sempre, a série teve seu piloto, The Seinfeld Chronicles, exibido no dia 5 de julho de 1989 (o episódio ainda não tinha Elaine, e Michael Richards era "Kessler"). Houve discussões na NBC, mas a reação crítica positiva fez a emissora escolher o seriado para uma temporada de apenas quatro episódios (exibida entre maio e junho de 1990).
Depois a série foi crescendo e acabou se tornando sucesso absoluto de público, liderando o ranking de audiência da Nielsen nos EUA nas temporadas seis e nove, e ficando entre os dois primeiros lugares de 1994 a 1998.
Seinfeld está disponível em streaming no Brasil no Amazon Prime Video. E continua brilhante.
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Uma das discussões preferidas da casa é comparar qualquer coisa com... Friends.
São dois universos diferentes, mas Seinfeld tem qualidades que me atraem e faltam em Friends.
A principal delas: a consciência de que aquilo que se passa na tela, em dois sentidos, na forma (a série de TV) e no conteúdo (o que os personagens fazem e falam), é, na verdade, uma grande encenação de problemas sem importância. Friends é muito mais autoindulgente nesse sentido.
A quarta temporada de Seinfeld gira em torno da produção de um piloto para a NBC por Jerry e George (alter ego do cocriador da série, Larry David). Em uma das cenas antológicas, eles discutem e chegam à conclusão de que uma série sobre "nada" pode dar certo... e afinal, Seinfeld ficou conhecido por ser uma série sobre nada.
No sétimo episódio da oitava temporada (The Checks, 1996), George sai com essa: "every time you turn on a TV, all you see is four morons sitting around an apartment, whining about their dates!" (toda vez que você liga a TV, tudo que se vê são quatro idiotas sentados num apartamento reclamando dos seus encontros!).
É discutível se a frase era uma provocação exatamente para Friends -- mas certamente era uma provocação também para Friends.
Outro elemento fundamental presente em Seinfeld e ausente em Friends é uma noção de estranheza permanente: nesse mesmo episódio, The Checks, Kramer hospeda um grupo de japoneses em um armário no seu apartamento -- outro fato: a provocação politicamente incorreta sempre me pareceu mais consciente em Seinfeld do que em Friends.
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Comparações à parte, existe uma teoria de fãs na internet que mostra como Phoebe Buffay (o grande personagem vivido por Lisa Kudrow) aparentemente salvou George Costanza (o grande personagem vivido por Jason Alexander); Alexander aparece num episódio de Friends em 2001 (The One Where Rosita Dies).
Ele vive, na verdade, Earl: um gerente de escritório e burocrata que está pensando em cometer suicídio. Phoebe, em um emprego novo para vender tinta de impressora por telefone, acaba se comunicando com ele e atua como profissional de auxílio na prevenção de suicídios.
O visual de Earl é na verdade o de um George acabadíssimo, e ele menciona que trabalha no escritório há pelo menos 10 anos (o que não coincidiria com sua trajetória em Seinfeld). Mesmo assim, não é irreal que o personagem pudesse se encaminhar para um futuro depressivo.
Numa entrevista recente ao (também maravilhoso) podcast WTF With Marc Maron, Alexander lamentou que o personagem perdeu o seu melhor quando Larry David saiu da série, após a sétima temporada.
Ele provavelmente tem razão.
Perceba: Alexander hoje tem 58 anos e além da carreira de ator ele também dá palestras e oficinas sobre a arte de atuar. A conversa dele com Maron (que recentemente também virou ator; Glow, da Netflix) sobre isso é super interessante.
Aqui os dois fragmentos em que ele aparece em Friends, contracenando com Lisa Kudrow:
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Courteney Cox também participou de um episódio de Seinfeld, seis meses antes de aparecer na tela pela primeira vez como Monica.
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Há muitos anos, tanto Jerry Seinfeld quanto Larry David disseram que Friends era um "rip-off" (uma cópia?) de Seinfeld.
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Meus episódios favoritos de Seinfeld:
The Chinese Restaurant (s02e11; o ep todo se passa na sala de espera de um restaurante chinês; Jerry sugere, em um episódio na quarta temporada, essa ideia para um dos programas da NBC).
The Pen (s03e03: coincidentemente, o outro episódio em que Kramer não aparece. Jerry e Elaine viajam para a Flórida, e se passa aquela confusão com a caneta de Jack Klompus. George também não aparece no ep: depois disso, Alexander ameaçou se demitir se Larry David o deixasse de fora novamente).
The Pitch (s04e03: aquele em que Jerry e George tem a conversa, no café, sobre um show sobre "nada").
The Opposite (s05e21: George faz tudo ao contrário e sua vida tem uma melhora impressionante. Isso aqui é ouro puro).
Entre os diversos números que Seinfeld apresentava nas primeiras temporadas, no início dos capítulos, esse aqui é inesquecível (eu não achei exatamente o da série, mas o texto é esse):
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Qual o seu favorito?