PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Livros, etc.

'Transpassar': quatro poemas para comemorar o aniversário de São Paulo

Por Guilherme Sobota
Atualização:

Centro de SP, Praça da Sé. O fotógrafo Tiago Queiroz fez um ensaio especial para comemorar o aniversário da cidade (veja mais fotos abaixo). Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - TIRADA COM MOTO Z PLAY + HASSELBLAD TRUE ZOOM

São Paulo comemora nesta quarta-feira, 25, 463 anos, e um passeio pelo centro histórico da cidade comprova o potencial literário que qualquer urbanidade guarda, mas esta em específico.

PUBLICIDADE

Para comemorar a data, a editora SESI-SP está lançando Transpassar, uma interessante coletânea de poemas organizada por Carlos Felipe Moisés e Victor Del Franco. No livro há textos (incluindo alguns inéditos) de Glauco Mattoso, Tarso de Melo, Fernando Paixão, Elisa Andrade Buzzo e Leila Guenther, entre outros.

O lançamento ocorre ainda nesta quarta-feira, 25, às 17h, na Casa das Rosas (Avenida Paulista, 37) e contará com a presença de alguns dos autores. Após o evento, às 20h, será exibido o filme São Paulo, Simphonia da Metrópole (1929), com execução ao vivo da trilha sonora pelo maestro Livio Tragtenberg.

Selecionei alguns poemas de Transpassar para comemorar a data e ironizar e dar uma colorida na São Paulo de janeiro de 2017.

REAL GRANDEZA (de Carlos Machado)

Publicidade

A rua Real Grandeza abriu mão da fidalguia e passou a se chamar austera e burguesa avenida Paulista.

Mas na periferia da cidade restaurou-se a antiga pompa: surgiu outra rua Real Grandeza na Vila Brasilândia.

Lá o esplendor real assenta-se triunfante junto à Favela do Inverno e o Morro do Piolho.

*

SONNETO PARA UM VERDE QUE SE PERDE [SONNETO 2336] (de Glauco Mattoso)

O cheiro de xixi, pela cidade, attinge o poncto maximo no centro, logar onde, faz tempo, ja nem entro, pois nada alli resiste que me aggrade.

Publicidade

"Havia, na avenida juncto à grade do parque, a ilha verde. Hoje, concentro o olhar e, cada vez mais para dentro da grade, até ao gramado o asphalto invade..."

Me disse assim o amigo que visita São Paulo raramente, e melhor nota as más transformações, como a descripta.

Si nada vejo e perco minha quota de verde, eu me lamento. Mais se irrita quem vê como a cidade se desbota!

*

CAUSANDO NA CITY (de Paulo César de Carvalho)

fui pra farra caí de napa na lapa mostrei a bunda me livrei de uma barra na barra funda tomei uma birita no bixiga arrumei uma briga entrei na contramão no carrão me perdi em perdizes perdi a direção na vila aída e o juízo na joaniza vi o inferno no paraíso fui preso na liberdade

Publicidade

melhor mudar ou mudar de cidade

*

SPAZZIO PIRANDELLO (de Rodolfo Guttilla)

 "ao chão real onde todos os sonhos se reúnem"

Carlos Felipe Moisés

 

sonho de uma noite de verão

Publicidade

em sampaulo

onde mais?

rua Augusta

esse lugar comum

e inesperado

Publicidade

 

você queria beijar

todas as meninas

da cidade (

não se preocupe

com as rejeições

Publicidade

ó meu

você já foi esnobado antes

)

 

sua divisa

era um grafite

rabiscado

Publicidade

no prédio novo da PUC

 

"para curar um amor

platônico

só mesmo

uma trepada

Publicidade

homérica"

 

comandado pelo baixo ventre

você não sabia

que o amor

é apenas

uma ideia

e o que se ama

é aquilo que não se tem

você tomou umas cervejas

no Spazzio Pirandello

e foi à luta

 

na manhã seguinte

saiu de fininho

pisando o chão real

onde todos os sonhos se reúnem

sem saudar

o entregador de jornal

em suspeitoso solilóquio

pequeno burguês (

 

esse papo era tão chato

você se lembra?)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.