Guilherme Sobota
22 de julho de 2016 | 13h12
Philip Roth ainda não viu nenhuma adaptação de muito respeito para as suas dezenas de obras consagradas. E olha que já teve gente boa tentando: Anthony Hopkins foi o professor Coleman Silk na adaptação do maravilhoso A Marca Humana, Revelações (2003, com Nicole Kidman), e Al Pacino fez o ator de teatro torturado na transposição do subestimado A Humilhação (O Último Ato, 2014).
Possivelmente, o melhor filme até agora seja Fatal (2008), da diretora catalã Isabel Coixet, baseada no livro O Animal Agonizante, o último da trilogia do professor David Kepesh, com Penélope Cruz e Ben Kingsley.
Mas esse posto deve cair logo: dois novos filmes inspirados nos romances de Roth chegam aos cinemas norte-americanos em breve – um de um livro excelente, outro de um menos inspirado (a lenda que corre é que bons livros dão maus filmes, e vice versa, e é claro que existem milhares de exceções).
Ewan McGregor vai estrear como diretor adaptando e atuando em Pastoral Americana — o livro de 1997 que ganhou Prêmio Pulitzer e é considerado o melhor de toda a carreira de Roth (por mim).
Resumindo: Pastoral é a história do cara bonitão, que herda a fábrica de luvas do pai, que se casa e vai morar em uma região rural de New Jersey (Seymour ‘Sueco’ Levov) e tem uma filha que se revolta contra a Guerra do Vietnã e comete um ato violento de protesto político.
A Pastoral é o sonho americano, the american dream, the american way of life, the welfare state, the Thanksgiving, com seu “peru gigante que alimenta 250 milhões de almas atormentadas” (“É a pastoral americana por excelência, e dura vinte e quatro horas”, escreve Roth). O sonho é viver dentro da Pastoral, ser consumido pela Pastoral, está tudo ali, ela nos alimenta, nos fornece o football, nos enriquece. Mas aí o Sueco é levado para longe dela.
“E por que não deveria estar onde eu queria? Por que não deveria estar com quem eu queria? Não é esse o espírito desse país? Quero ficar onde quero ficar e não quero ficar onde não quero ficar. É isso o que significa ser americano… não é?” (diz o personagem, na tradução do Rubens Figueiredo para a Companhia das Letras).
Para não dizer mais, a história é emocionante, sofrida, espetacular, trágica, inesquecível.
E parece que McGregor fez um filme bom sobre ela (estreia marcada para outubro nos EUA). Vê o trailer:
E o pôster:
Outra estreia (29 de julho nos EUA) é a adaptação de James Schamus (roteirista de Aconteceu em Woodstock e O Tigre e o Dragão) para Indignação.
Que é um livro menos inspirado. Ele faz parte de uma tetralogia final de Roth, de livros sobre a morte (com Homem Comum, A Humilhação e Nemesis, publicados entre 2006 e 2010). O livro vai indo bem — é a história de um jovem judeu de Newark que embarca para o Meio Oeste americano para estudar e fugir da convocação da Guerra da Coreia, e por aí vai — mas o final, que não vou entregar, joga uma bomba de água fria que derruba tudo.
Mas o filme de Schamus – que foi CEO da Focus Features, uma das produtoras de filmes independentes mais interessantes de Hollywood, e também estreia como diretor – foi bem recebido em Sundance e o seu rating no imdb é 7,4 até agora, bastante decente. O trailer:
Acho que duas boas notícias para os fãs do maior escritor norte-americano (vivo).
(Guilherme Sobota)
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