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'O que se espera da América Latina é uma espécie de realismo regionalista', diz Pablo Katchadjian

Escritor argentino participa do ciclo 'Interferências: Novas Tendências da Literatura Latino-Americana', no Instituto Cervantes de São Paulo, com curadoria de Antônio Xerxenesky

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Por Guilherme Sobota
Atualização:

O Instituto Cervantes de São Paulo (Av. Paulista, 2.439) recebe nesta quinta, 27, e sexta, 28, o ciclo Interferências: Novas Tendências da Literatura Latino-Americana. Com entrada gratuita e curadoria de Antônio Xerxenesky, o ciclo recebe Pablo Katchadjian (escritor argentino que ficou célebre ao se envolver numa pendenga jurídica com Maria Kodama sobre uma obra de Borges), Paloma Vidal e Joca Reiners Terron. Às 19h.

Convidei Xerxenesky para elaborar três perguntas a Katchadjian como prévia dos debates, e aqui estão elas.

Antônio Xerxenesky / Pablo Katchadjian. Fotos: Renato Parada / Arquivo Pessoal  Foto: Estadão

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Xerxenesky: Muitos escritores latino-americanos, ao serem traduzidos para o inglês (como é o seu caso), reclamam que o público norte-americano ainda associa a nossa literatura em espanhol ao realismo mágico de García Márquez e companhia. Você acha que essa ligação foi finalmente superada ou ainda persiste?

Pablo Katchadjian: Parece que agora o que se espera da "América Latina" fora dos países latino americanos é uma espécie de realismo regionalista (narcotráfico, pobreza, ditaduras, etc). Não posso dizer muito mais, mas, talvez, me ocorre agora que, como o que faço não tem a ver nem com o chamado Boom nem com o realismo regionalista, deve ser por isso que às vezes se produz algo assim como uma ansiedade de classificação.

Xerxenesky: Seu livro A Liberdade Total, que está sendo lançado agora no Brasil (pela e-galáxia), foi adaptada para o teatro no Brasil por Felipe Hirsch. Para você, o trânsito entre a literatura e as outras artes é uma marca da literatura contemporânea?

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Katchadjian: Creio que no caso de A Liberdade Total tem a ver com o livro em questão, que é todo em diálogo e, ainda que seja um romance, parece estar na fronteira do teatro. Mas há algo um pouco paradoxal, se se pode usar a palavra: que o livro, enquanto mais perto parece do teatro, mais longe está. Por exemplo, os personagens caminham muito, atravessam territórios, algo muito incômodo de representar. Eu imaginei sempre recriado na cabeça do leitor, como qualquer livro. Salvo que neste o leitor tem que fazer quase tudo, porque não há nenhuma descrição. Talvez o livro tente passar a outras artes para economizar trabalho para o leitor.

Xerxenesky: Apesar da proximidade geográfica entre Argentina e Brasil, muitos apontam que nossos países são bastante separados em termos de literatura. Como você enxerga essa divisão?

Katchadjian: O que sempre senti no Brasil é uma ilusão de autoabastecimento, o que é invejável, porque na Argentina, que está muito abaixo, longe de tudo, em uma ponta, a ideia é mais de isolamento e de falta. Entre a ilusão de autoabastecimento e a de isolamento a conexão deveria ser impossível, mas não é tanto assim. Além disso, são dois países com idiomas diferentes e tradições próprias, e não sei qual seria a medida justa de intercâmbio, quanto seria pouco e quanto seria muito, e tampouco sei se a proximidade geográfica deveria supor maior intercâmbio. Mas, sem dúvida uma troca maior poderia ser enriquecedora para os dois -- de acordo com o que se troque --, assim que não fica mal tratar de fomentá-la usando como desculpa -- e como facilitador -- a proximidade.

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