Depois de algumas temporadas no samba, Criolo enfim voltou ao rap -- ainda bem, porque estamos precisando.
No seu novo clipe, Boca de Lobo, o músico volta às rimas e aos beats de Daniel Ganjaman e Nave e ao mesmo tempo lança um clipe daqueles de ficar na memória e abrir espaço para interpretações diversas.
Veja Boca de Lobo:
"Nem Pablo Escobar nem Pablo Neruda, já faz tempo que São Paulo bota a morte na minha nuca", diz a certa altura.
A música passa em revisão diversos momentos críticos do Brasil político recente -- da prisão injusta de Rafael Braga ("Aonde a pele preta possa incomodar / Um litro de Pinho Sol pra um preto rodar"), ao "helicoca", passando por violência policial ("Se três poder vira balcão, governo vira biqueira / Olhe, essa é a máquina de matar pobre! / No Brasil, quem tem opinião, morre!") e as malas de dinheiro no apartamento de Geddel (no clipe).
A superprodução do vídeo traz monstros gigantes destruindo o centro de São Paulo, se refestelando na lama de Mariana (MG) e sobrevoando o Congresso em Brasília.
Numa entrevista recente à VICE, porém, o músico disse que o clima que quer passar é de otimismo. "Nós temos total condição e capacidade - já mostramos isso tantas e tantas vezes - de mudar esse cenário que está posto. Chegamos num lugar onde as pessoas estão se dando conta do tamanho da força que alguém mal intencionado pode ter, mas que essa pessoa não é maior que a gente. Nunca foi, nunca vai ser", disse ele à revista.
É o que qualquer um que acredita na liberdade e no poder de a democracia transformar injustiças sociais históricas espera, certamente.