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Professora causa comoção na Flip ao dar depoimento sobre racismo no Brasil

Ator Lázaro Ramos foi às lágrimas; vídeo em que a professora paranaense Diva Guimarães conta parte de sua história de luta contra a discriminação já tem mais de 3 milhões de visualizações

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Por Guilherme Sobota
Atualização:

PARATY - A sensação da Flip nesta sexta-feira, 28, não foi nem um convidado da programação principal, nem uma convidada da extensa agenda paralela. Foi, sim, a professora aposentada Diva Guimarães, de 77 anos. Paranaense que hoje vive em Curitiba, Diva contou uma parte de sua história e emocionou o público que participava de uma mesa com Lázaro Ramos e a jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques. Veja o vídeo:

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O vídeo já tem mais de 3 milhões de visualizações no Facebook.

Diva é neta de escravos, e contou que com inspiração da mãe conseguiu superar diversos obstáculos relacionados ao racismo no caminho, estudar e virar professora. "Eu fiquei muito feliz quando você falou sobre educação", diz ela para Lázaro logo no início do seu depoimento - no vídeo, é possível ver muita gente emocionada já nessa parte.

"Aos 6 anos, eu amadureci", disse Diva. "As freiras do meu colégio contavam a seguinte história: Deus criou um rio e mandou todos tomarem banho. As pessoas que são brancas (que eram trabalhadoras, inteligentes), chegaram nesse rio, tomaram banho e ficaram brancos. Nós, negros, que éramos preguiçosos (o que é mentira, porque o Brasil vive hoje porque os meus antepassados deram condição a todos)..."

Muito emocionada, Diva foi aplaudida de pé pela plateia.

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"Então, nós chegamos no final, quando todos tinham tomado banho, e o rio só tinha lama. Nós só conseguíamos tocar as mãos e os pés no rio. E era por isso que nós só tínhamos as palmas das mãos e as solas dos pés claras. Era isso que ela contava para os brancos para dizer que nós éramos preguiçosos."

Diva Guimarães na mesa 'A Pele que Habito', na Festa Literária Internacional de Paraty. Foto: Walter Craveiro

"Sou uma sobrevivente pela educação", concluiu.

Diva trabalhou por 40 anos em Curitiba como professora, alfabetizando adultos também. Ela criticou o esteriótipo criado sobre a cidade. "Vai viver em Curitiba como negro para vocês verem", lamentou.

O ator Lázaro Ramos, que vive em estado de graça na Flip, desde a palestra de abertura na quarta-feira, em que interpretou e leu textos de Lima Barreto, chorou durante todo o discurso. "A senhora quer matar a gente", brincou.

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