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Livros, etc.

3 poemas-protesto para o Brasil de ontem e hoje

Antologia '50 Poemas de Revolta' traz textos clássicos de autores consagrados e poesia nova de nomes contemporâneos para discutir problemas sociais

Por Guilherme Sobota
Atualização:

O fim de ano chegando, as listas de melhores livros de 2017 começando a aparecer e as tretas do meio literário no Twitter a todo o vapor. Mas uma nova antologia, 50 Poemas de Revolta (Companhia das Letras), reúne textos sobre problemas de verdade do Brasil (ou da Somália, como no tocante poema de Tarso de Melo reproduzido abaixo, com outros dois do livro), como o racismo, o machismo e a desigualdade social.

São 34 poetas, um texto inédito (da carioca Yasmin Nigri, que terá seu primeiro livro, Bigornas, publicado em 2018 pela Editora 34), e um passeio rápido e pela poesia brasileira.

Foto em Bonito de Minas (MG), de setembro de 2014. Dados do Censo 2000 e 2010 diagnosticaram a cidade como o município que mais diminuiu sua desigualdade social entre a população. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Num curto prefácio (Toda poesia é política?), os editores afirmam que "quando o poeta lança seus dados em resposta às notícias de jornal, a política aparece não apenas como um dos componentes que definem o gênero poético, mas também como temática do poema. Com profundo desejo de transformação, os versos se rebelam contra as mazelas sociais e conquistam alta voltagem de mobilização. É uma poesia engajada, indignada, insubordinada".

"Alta voltagem de mobilização" é uma expressão que pode ser debatida quando o assunto é poesia, mas vale o crédito.

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Entre os autores do livro (que vêm numa edição prática, pequena, de bolso), estão Adelaide Ivánova, Angélica Freitas, Conceição Evaristo, Chacal, Carlos Drummond de Andrade, Torquato Neto, Francisco Alvim, Hilda Hilst, Roberto Piva, Carolina Maria de Jesus e Vinicius de Moraes.

Leia abaixo três poemas de '50 Poemas de Revolta':

Descobrimento 

Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da rua Lopes Chaves De supetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando para mim.

Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! muito longe de mim, Na escuridão ativa da noite que caiu, Um homem pálido, magro, de cabelo escorrendo nos olhos, Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo.

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Esse homem é brasileiro que nem eu...

(Mário de Andrade)

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Não digam que fui rebotalho, que vivi à margem da vida. Digam que eu procurava trabalho, mas fui sempre preterida. Digam ao povo brasileiro que meu sonho era ser escritora, mas eu não tinha dinheiro para pagar uma editora.

(Carolina Maria de Jesus)

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Somália

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vão restar, quem sabe, esses números limpos e indistintos contra a montanha de corpos destroçados

mas a imprensa não dirá "veja quem são as vítimas do atentado na Somália" com fotos de família e informações familiares

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alguns de nós virando rápido a página ainda perguntarão: "se lá ninguém vive, como é que alguém morre?" enquanto morremos também

(Tarso de Melo, publicado originalmente em 15 de outubro de 2017 numa plaquete da Alpharrabio Edições)

50 POEMAS DE REVOLTA

Vários autores

Editora: Companhia das Letras (144 págs., R$34,90)

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 Foto: Estadão
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