O futuro do negócio de música, por Karina Buhr

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Por Redação
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Oi Guilherme!

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Escrevo de longe do Brasil, do hábito de escrever e do prazo que você me pediu pra te mandar alguma opinião sobre o futuro do negócio de música.

Pelo menos tenho uma boa desculpa...

Estava trabalhando justamente com esse negócio de música, na Womex (World Music Expo) que é uma feira internacional muito importante pra música chamada independente e/ou catalogada como World Music e neste ano aconteceu em Copenhague, Dinamarca.  Não vou nem entrar no questionamento de independência e world ou não world music, pra não prolixar demais...

Acho que posso contribuir um pouco com essas conversas, falando um tiquinho sobre isso. Fui uma das 3 selecionadas do Brasil pra participar esse ano. A feira abre possibilidades concretas de começo de conversas e caminhos internacionais  a trilhar. Estão rolando conversas legais agora com Portugal, UK e mais otras cositas.

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Como a feira não conta com patrocinadores que banquem as passagens, hospedagens e cachês dos selecionados,  ela envia uma carta convite, pra que todos busquem patrocínios e apoios em seus países.

Vou procurar saber se eles têm dados sobre isso. Quero muito saber quem consegue e quem não consegue apoio de seus países.

Eu, com as secretarias e fundações de cultura do Recife (minha cidade) e de Pernambuco (meu estado) não consegui. Talvez eu tenha errado feio no que tenho como ideia e sensação de  nacionalidade, de cidadania, sei lá...

Talvez eu tivesse me saído melhor se tivesse ido atrás do meu estado de nascimento, a Bahia, que patrocinou a ida dos seus pra Womex e ainda me citou no texto de divulgação dessa ação, como "a cantora baiana"....rs!

E eu aqui, romântica, desejando que Pernambuco Imortal ficasse com ciúme!

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Ai, ai, ai...eu deixando a roupa suja de molho on line. Mas é uma lavagem que diz respeito ao mercado brasileiro de música independente, logo, roupa coletiva.

Ah! Com o Ministério da Cultura também não aconteceu.

Não estou chorando, nem caindo na lamentação, afinal de contas consegui ir mesmo assim, com um trabalho muito intenso e dedicado, meu e de Duda Vieira, o cara massa que é meu produtor. Outra coisa importante é que, como mandamos projetos pra editais específicos e aguardamos resultados pra logo mais, pode ser que consigamos repor todo ou uma parte importante do investimento na ida pra Womex.

Cito isso por que acho importante como um dado a mais pra nossas conversas aqui neste teu precioso espaço.

Porque quando falamos em futuro do mercado da musica sempre falamos também de música independente, já que cai sempre em pauta a internet, o barateamentos dos custos de gravação e as ações individuais que dão certo com as mudanças de formato de fabricação e venda de produtos, de pessoas, de estilos, de ídolos.

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Acho que a narração disso que aconteceu comigo nesse final de semana vale mais do que a minha opinião sobre o futuro do tal mercado, que pra mim são o streaming, o vinil, o pagode e a serenata.

Na verdade nunca me preocupei muito com o mercado.

Não sou um bom exemplo.

Já Duda Vieira se preocupa inteligentemente com isso e sem perder la ternura.

A feira tinha todas essas tags pairando no ar. Conversas instigantes, shows interessantes, agentes, produtores e músicos vendendo seus peixes, embora música não seja peixe, como o lado maravilhoso disso e também às vezes estranho, já que muitas vezes os olhos se dirigiam antes pra um crachá do que pra outro par de olhos.

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Tinham dois alemães lá que divulgavam sua máquina de gravar vinil um a um, de forma caseira e atraiam uma fila imensa em frente ao stand, oferecendo a gravação de uma música de cada pessoa da fila, como amostra grátis.

O slogan deles é "Leve sua música de volta para o futuro". Identifiquei-me...

Bruno Buarque e Daniel Gralha (meus baterista e trompetista) fizeram, cada um, uma faixa do "Eu Menti pra Você".

Quando fui fazer umaterceira, pra mim, tinha um monte de brasileiro na fila e o cara dando escândalo, porque assim cada banda ia ter todas as músicas gravadas e não uma, como era o plano de negócio deles, afinal a maioria não compraria a machine mesmo.

Ele gritava "O Brasil não é o mundo!"...rs! Acabei não conseguindo fazer e ganhando de presente o que Gralha fez.

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"O Brasil não é o mundo" me fez lembrar a mulher do check in de alguma companhia aérea gringa desse unterwegs, que olhou pros nossos passaportes e disse "vocês são brasileiros? Vão ficar ricos! Acabaram de descobrir muito petróleo lá e vocês vão ser a décima economia do mundo!". Tive a sensação de a notícia da vitória de Dilma ter ecoado por essas bandas com um tipo de glamour superficial. Mas isso é quase outro assunto. Voltemos ao eixo.

Faço parte da ala autista do mercado fonográfico, que é a que  sabe que faz parte de um movimento de compras e vendas, que sabe dos artifícios que pode lançar mão pra ser mais fácil um sucesso nesse sentido, embora não exista a fórmula (grazie!), mas não abre mão de fazer apenas  o que gosta e acredita. A ala que torce pra que um número grande de pessoas goste de sua música, mas não muda em nada sua música por causa disso.

É um contrasenso, diria até uma contravenção, pro mundo dos negócios, no caso você ter o tal "produto", ter um público consumidor mas se preocupar apenas com os ouvidos seus e desse possível público. Aliás, não chamaria nem de preocupação.

A verdade verdadeira mesmo é que prefiro o mundo da música, que não tem nada a ver com o do dinheiro, embora possam andar juntos e serem felizes para sempre e isso, ainda bem, acontece também!

Sigo então fazendo a música que gosto, trabalhando com pessoas que gosto e que admiro, pensando em ideias malucas e torcendo pra que dê tudo certo.

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Dar certo, no caso, tem menos a ver com sucesso e mais com diversão, mas tem muitas maneiras de quase tudo ser divertido, inclusive o sucesso.

Pra terminar, queria linkar uma ouvida da música "Ciranda do Incentivo"

Beijos,

Buhr

Karina Buhr é atriz (já fez parte da trupe do Oficina), apareceu como música com o genial Comadre Fulozinha e, neste ano, lançou o delicioso álbum "Eu Menti pra Você", um dos meus preferidos de 2010. Renascentista que só, ela pinta (ilustra) e borda (no seu site karinabuhr.com.br e no blog na revista TPM)

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